Lágrimas no Casamento: O Desabafo de uma Mãe Portuguesa

— Não faças isto, Pedro. Por favor, pensa bem — sussurrei-lhe ao ouvido, enquanto a música suave do quarteto de cordas se misturava com o burburinho dos convidados. O meu filho olhou-me nos olhos, os dele brilhando de determinação e talvez de mágoa. — Mãe, já decidi. Amo a Inês. Quero que respeites isso.

O salão da Quinta dos Cedros estava decorado com rosas brancas e velas altas, mas para mim tudo parecia enevoado, como se o mundo tivesse perdido as cores. As pessoas sorriam, brindavam, dançavam. Só eu chorava. Não eram lágrimas de felicidade; eram lágrimas de medo e desilusão. Desde o primeiro dia em que o Pedro me apresentou a Inês, senti um aperto no peito. Ela era educada, sim, mas havia algo nela — uma frieza, uma distância — que me inquietava.

O meu marido, António, tentava acalmar-me. — Deixa-os ser felizes, Maria. O Pedro já é homem feito. — Mas ele não via o que eu via. Não sentia o que eu sentia. O Pedro era o nosso único filho, fruto de anos de tentativas e lágrimas. Sempre sonhei com uma nora que fosse como uma filha para mim, que trouxesse alegria à nossa casa. Mas a Inês parecia sempre desconfortável connosco, como se estivéssemos a mais.

Naquela noite do casamento, enquanto todos dançavam, sentei-me sozinha no jardim da quinta. Oiço vozes atrás de mim:

— A tua mãe está impossível hoje — dizia Inês ao Pedro.
— Ela só precisa de tempo — respondeu ele, num tom cansado.

Senti-me traída. Não era só a minha nora que me afastava; era também o meu próprio filho. Será que falhei como mãe? Será que o protegi demais? Ou talvez não o tenha preparado para enfrentar o mundo sozinho?

Os meses passaram e as visitas do Pedro tornaram-se mais raras. Quando vinham cá a casa, Inês ficava sempre agarrada ao telemóvel ou inventava desculpas para sair mais cedo. O António dizia-me para não insistir tanto, para dar espaço ao casal jovem. Mas eu não conseguia. Sentia-me cada vez mais sozinha naquela casa grande demais para dois.

Um dia, recebi uma chamada inesperada do Pedro:

— Mãe, tenho uma novidade para te contar. Vamos ter um bebé.

O meu coração bateu mais forte. Talvez agora tudo mudasse. Talvez a chegada de um neto trouxesse a família de volta.

Durante a gravidez da Inês tentei aproximar-me. Ofereci-me para ajudar com as compras do enxoval, sugeri nomes tradicionais portugueses para o bebé, mas cada tentativa era recebida com um sorriso forçado ou um “não é preciso, Maria”.

Quando a pequena Maria nasceu — deram-lhe o meu nome, talvez por insistência do Pedro — fui visitá-los ao hospital com um ramo de flores e um ursinho de peluche. Inês mal me olhou nos olhos. O Pedro parecia cansado e distante.

Os meses seguintes foram ainda mais difíceis. Queria ver a minha neta crescer, mas cada visita era marcada por silêncios constrangedores e olhares de lado. Um dia ouvi Inês dizer ao Pedro:

— A tua mãe sufoca-me. Não quero que ela venha cá tantas vezes.

O Pedro tentou defender-me:
— Ela só quer ajudar.
— Não preciso da ajuda dela! — respondeu Inês num tom cortante.

Senti-me rejeitada na minha própria família. O António tentava animar-me:
— Dá-lhes tempo, Maria. Eles vão perceber que precisam de ti.

Mas os meses passaram e nada mudou. Pelo contrário: começaram a aparecer outras pessoas na vida do Pedro e da Inês. Uma delas era a Sofia, uma amiga antiga do Pedro que agora morava perto deles. A Sofia era tudo aquilo que eu sempre imaginei numa nora: simpática, calorosa, atenciosa comigo e com o António. Quando vinha cá a casa trazia bolos caseiros e ajudava-me no jardim.

Um dia ouvi um rumor na vila: diziam que o Pedro passava muito tempo com a Sofia e que a Inês não gostava nada disso. Comecei a notar tensão entre eles nas poucas vezes em que vinham cá jantar.

Certa noite, depois de um jantar especialmente tenso em nossa casa, ouvi o Pedro e a Inês discutirem no carro antes de partirem:

— Não aguento mais esta pressão! — gritava Inês.
— A minha mãe só quer fazer parte da nossa vida! — respondia o Pedro.
— Pois eu não quero! — disse ela antes de bater com a porta do carro.

O António suspirou ao meu lado:
— Isto não vai acabar bem…

Os meses seguintes foram um turbilhão de emoções. O Pedro começou a aparecer sozinho em nossa casa com mais frequência. Um dia desabafou comigo:

— Mãe… as coisas com a Inês não estão bem. Ela quer separar-se.

O meu coração partiu-se em mil pedaços. Sempre temi este desfecho, mas nunca quis que acontecesse realmente. Senti culpa por ter alimentado este afastamento entre eles.

Pouco tempo depois soube que a Inês tinha ido viver para casa dos pais com a pequena Maria. O Pedro ficou devastado. Tentei apoiá-lo como pude, mas sentia-me responsável por todo aquele sofrimento.

Foi então que surgiu uma nova figura na nossa vida: a Armanda, uma colega do Pedro do trabalho. Começaram como amigos, mas rapidamente percebi que havia algo mais entre eles. A Armanda era diferente da Inês: sorridente, simples, gostava de conversar connosco e parecia genuinamente interessada em fazer parte da família.

Mas nem tudo era fácil. A Inês dificultava as visitas do Pedro à filha e fazia questão de me culpar pelo fim do casamento:

— A sua intromissão destruiu a nossa família — disse-me um dia ao telefone.

Chorei durante horas depois dessa chamada. O António tentava consolar-me:
— Não te culpes tanto, Maria…

Mas como não me culpar? Sempre quis proteger o meu filho e acabei por afastá-lo da mulher e da filha.

Agora vejo o Pedro dividido entre duas casas: numa está a filha Maria com uma mãe ressentida; noutra está ele próprio tentando reconstruir-se ao lado da Armanda e tentando manter alguma paz entre todos nós.

Às vezes pergunto-me: será que teria sido diferente se eu tivesse aceitado melhor a Inês? Se tivesse calado os meus receios? Ou será que estava certa desde o início?

Hoje olho para trás e vejo uma família partida por escolhas difíceis e palavras não ditas. Sinto falta do tempo em que éramos só nós os três à mesa da cozinha, rindo das pequenas coisas do dia-a-dia.

Será possível remendar um coração de mãe quando tudo à volta parece desmoronar? E vocês… já sentiram este peso no peito por quererem proteger demais quem amam?