O Meu Marido Quer Mandar o Meu Filho Viver com a Mãe Dele: Não Vou Permitir

— Não é justo, Miguel! — gritei, sentindo a voz tremer, mas mantendo-me firme. — O Tiago é meu filho, e não vai viver com a tua mãe!

Miguel olhou-me com aquele ar frio, quase calculista, que só mostrava quando queria impor a sua vontade. Estávamos na cozinha, a luz amarela do candeeiro a lançar sombras nas paredes, e o cheiro do jantar ainda pairava no ar. O Tiago, com apenas oito anos, dormia no quarto ao lado, alheio à tempestade que se abatia sobre nós.

— Leonor, tu sabes que aqui não temos condições — disse ele, cruzando os braços. — A minha mãe tem espaço, pode dar-lhe uma vida melhor. E tu… tu andas exausta.

Exausta? Sim, estava. Mas não era disso que se tratava. Era da sensação de que me estavam a arrancar um pedaço de mim. Desde que casei com o Miguel, sabia que ele vinha de uma família tradicional, daquelas em que as mães mandam mais do que os próprios filhos. Mas nunca pensei que ele fosse capaz de sugerir uma coisa destas.

— Não me venhas com desculpas — respondi, tentando controlar as lágrimas. — Tu sabias que eu tinha o Tiago quando casaste comigo. Não foi surpresa para ninguém.

Ele suspirou, desviando o olhar. — Eu só quero o melhor para todos. A minha mãe pode ajudar.

A verdade é que a relação com a minha sogra nunca foi fácil. Dona Amélia sempre me olhou de lado, como se eu fosse uma intrusa na família dela. Quando engravidei do Tiago, tinha apenas dezanove anos e o pai dele desapareceu sem deixar rasto. Fui mãe solteira até conhecer o Miguel, e mesmo assim nunca deixei que faltasse nada ao meu filho.

A vida em Lisboa não era fácil. O dinheiro mal chegava para as contas, e eu trabalhava num supermercado durante o dia e fazia limpezas à noite. O Miguel tinha um emprego estável numa seguradora, mas parecia sempre insatisfeito, como se a nossa vida fosse um fardo demasiado pesado para ele carregar.

Naquela noite, depois da discussão, fui até ao quarto do Tiago. Sentei-me na beira da cama e passei-lhe a mão pelo cabelo castanho-claro. Ele murmurou algo no sono e sorriu. Senti uma dor aguda no peito — como podia alguém achar que ele estaria melhor longe de mim?

No dia seguinte, tentei agir normalmente. Preparei o pequeno-almoço e levei o Tiago à escola. No caminho, ele perguntou:

— Mãe, porque é que tu e o Miguel estavam a falar tão alto ontem?

Sorri-lhe, tentando esconder a preocupação.

— Foi só uma conversa de adultos, querido. Nada com que te devas preocupar.

Mas dentro de mim crescia uma angústia. E se o Miguel insistisse? E se tentasse convencer-me com argumentos racionais? Eu sabia que ele era persuasivo — foi assim que me conquistou, afinal.

Durante dias, andámos num silêncio tenso. O Miguel evitava olhar-me nos olhos e passava mais tempo fora de casa. Uma noite, chegou tarde e cheirava a vinho barato.

— Foste ao café outra vez? — perguntei.

Ele encolheu os ombros.

— Preciso de espairecer.

— Ou precisas de fugir dos problemas? — atirei.

Ele virou-se para mim com raiva nos olhos.

— Sabes o que é difícil? Viver nesta casa onde ninguém me entende! A tua prioridade é sempre o Tiago!

Fiquei gelada. Era isso? Ciúmes do meu filho?

— O Tiago é uma criança! É natural que seja a minha prioridade! — respondi, sentindo as lágrimas ameaçarem cair.

Ele saiu da sala batendo com a porta. Fiquei ali sentada no sofá, abraçada às pernas, sentindo-me mais sozinha do que nunca.

No fim de semana seguinte, Dona Amélia apareceu sem avisar. Entrou em casa como se fosse dela e foi direta ao assunto:

— Leonor, eu sei que tens feito um esforço enorme, mas tens de pensar no futuro do Tiago. Eu posso dar-lhe estabilidade.

Olhei-a nos olhos e vi ali a mesma frieza do filho. Não era preocupação verdadeira — era controlo.

— O Tiago tem mãe — respondi secamente. — E enquanto eu tiver forças, vai ficar comigo.

Ela suspirou dramaticamente e olhou para o Miguel em busca de apoio. Ele ficou calado.

Depois desse dia, as coisas pioraram. O Miguel começou a chegar cada vez mais tarde a casa e a falar menos comigo. O Tiago sentia o ambiente pesado e começou a ter dificuldades na escola. Uma professora chamou-me à parte:

— A Leonor está tudo bem em casa? O Tiago anda distraído…

Senti vergonha e raiva ao mesmo tempo. Não queria expor os meus problemas familiares, mas também não podia continuar assim.

Numa noite chuvosa, depois de mais uma discussão feia com o Miguel — desta vez sobre dinheiro — tomei uma decisão difícil: fui dormir no quarto do Tiago. Ele acordou a meio da noite e perguntou:

— Mãe, vais embora?

Abracei-o com força.

— Nunca te vou deixar sozinho, meu amor.

No dia seguinte liguei à minha mãe em Setúbal. Ela sempre me apoiou, mesmo quando engravidei tão nova.

— Filha, volta para casa se precisares. Aqui tens sempre um lugar.

Pensei muito nessa hipótese. Mas fugir não era solução — não queria dar razão à Dona Amélia nem ao Miguel.

Na semana seguinte recebi uma carta da escola: queriam marcar uma reunião urgente sobre o comportamento do Tiago. Senti-me esmagada pela culpa — será que estava a falhar como mãe?

Na reunião, ouvi coisas duras:

— O Tiago anda triste, isolado…

Saí da escola com lágrimas nos olhos e liguei ao Miguel:

— Isto não pode continuar assim! Ou mudamos alguma coisa ou vou embora!

Ele ficou em silêncio durante uns segundos longos demais.

— Talvez seja melhor cada um seguir o seu caminho — disse finalmente.

O mundo desabou à minha volta. Mas ao mesmo tempo senti um alívio estranho — pelo menos agora sabia com o que contar.

Nessa noite fiz as malas do Tiago e as minhas. Quando ele chegou da escola expliquei-lhe tudo com palavras simples:

— Vamos viver só os dois outra vez. Vai ser difícil no início, mas juntos conseguimos tudo.

Ele abraçou-me com força e chorou baixinho no meu ombro.

Saímos de casa sem olhar para trás. Fomos para Setúbal, para casa da minha mãe. Não foi fácil recomeçar: tive de arranjar outro emprego e adaptar-me à nova rotina. Mas vi logo melhorias no Tiago — voltou a sorrir e as notas subiram.

O Miguel tentou contactar-nos algumas vezes, mas nunca para perguntar pelo filho — só queria saber dos papéis do divórcio e das contas por pagar.

Hoje olho para trás e percebo que fiz o certo. O Tiago é feliz ao meu lado e nunca mais deixei ninguém pôr em causa o nosso amor de mãe e filho.

Às vezes pergunto-me: quantas mulheres passam pelo mesmo? Quantas são pressionadas a abdicar dos filhos em nome de uma suposta estabilidade? Será que fiz bem em lutar até ao fim? E vocês… teriam feito diferente?