Nunca Mais Volto à Casa da Minha Sogra: Um Fim de Semana Que Mudou Tudo
— Não é assim que se faz, Mariana! — A voz da minha sogra ecoou pela cozinha, cortando o silêncio como uma faca afiada. Eu estava a tentar descascar batatas para o almoço, mas as minhas mãos tremiam. O cheiro a cebola frita misturava-se ao nervosismo que me subia pelo peito. Olhei para o meu marido, Rui, à espera de algum apoio, mas ele apenas encolheu os ombros e continuou a mexer no telemóvel.
“Porquê que aceitei vir passar o fim de semana aqui?”, pensei. Tinha imaginado um retiro calmo na aldeia, longe do barulho da cidade, mas desde que chegámos à casa dos pais do Rui, tudo parecia um teste à minha paciência e ao nosso casamento.
A casa era antiga, com paredes grossas e móveis escuros. O relógio de parede marcava cada segundo com uma precisão cruel. A sogra, Dona Lurdes, era o tipo de mulher que nunca sorria sem razão e que achava que só havia uma maneira certa de fazer as coisas: a dela. Desde o pequeno-almoço — “Aqui não se bebe café de cápsula, Mariana!” — até ao jantar — “O arroz não se mexe assim!” — tudo era motivo para crítica.
No sábado à tarde, depois do almoço, sentei-me no alpendre com o Rui. O sol batia forte nos campos de milho e ouvia-se ao longe o sino da igreja. Tentei desabafar:
— Não aguento mais, Rui. A tua mãe não gosta de mim. Sinto-me uma intrusa nesta casa.
Ele suspirou, sem me olhar nos olhos:
— Mariana, ela é assim com toda a gente. Não levas a peito.
Mas eu levava. Cada palavra dela era como uma pedra no sapato. E havia também o sogro, o Sr. António, sempre calado, só levantando os olhos do jornal para lançar um olhar reprovador quando eu fazia algo “fora do normal”.
No domingo de manhã, acordei cedo com vozes na cozinha. Ouvi Dona Lurdes dizer:
— Esta rapariga não sabe fazer nada! O Rui merecia melhor.
O meu coração apertou-se. Fiquei imóvel na cama, a ouvir cada palavra como se fossem facadas. Quando finalmente criei coragem para descer, tentei sorrir e fingir que não tinha ouvido nada.
Durante o pequeno-almoço, tentei puxar conversa:
— Dona Lurdes, quer ajuda para preparar o almoço?
Ela olhou-me de cima a baixo:
— Não vale a pena. Já vi que não tem jeito para estas coisas.
O Rui continuava calado. O silêncio entre nós era ensurdecedor.
Depois do almoço, enquanto lavava a loiça sozinha — porque Dona Lurdes disse que “pelo menos assim não estragava mais nada” — ouvi-a discutir com o Rui na sala:
— Tu mudaste desde que casaste com ela! Já não és o mesmo filho.
— Mãe, por favor… — respondeu ele, num tom baixo.
— Ela não é daqui! Não percebe as nossas tradições!
Senti as lágrimas a escorrerem-me pelo rosto. O sonho de um fim de semana idílico no campo transformara-se num pesadelo de acusações e ressentimentos.
À noite, tentei falar com o Rui:
— Não posso continuar assim. Sinto-me sozinha até contigo ao meu lado.
Ele olhou-me finalmente nos olhos:
— Mariana, eu amo-te. Mas não posso escolher entre ti e a minha mãe.
As palavras dele ficaram a ecoar na minha cabeça durante horas. Na manhã seguinte, fiz as malas em silêncio. Quando nos despedimos, Dona Lurdes limitou-se a dizer:
— Boa viagem.
No carro, Rui tentou quebrar o gelo:
— Talvez devêssemos dar-lhe tempo…
Mas eu sabia que não era uma questão de tempo. Era uma questão de respeito — ou da falta dele.
De regresso à cidade, olhei pela janela e perguntei-me: quantas famílias vivem presas entre tradições antigas e novos modos de vida? Quantos casamentos resistem à pressão das expectativas familiares? Será possível construir uma ponte entre dois mundos quando ninguém quer dar o primeiro passo?
E vocês? Já sentiram que nunca seriam aceites numa família? O que fariam no meu lugar?