No Dia do Meu 18º Aniversário, Anunciei o Meu Noivado — Mas o Meu Noivo Era da Idade dos Meus Pais

— Não pode ser verdade, Mariana! — O grito da minha mãe ecoou pela sala, abafando até o som dos talheres a cair no chão. O bolo de aniversário ainda estava inteiro na mesa, mas já ninguém pensava em parabéns. O meu pai, António, olhava-me como se eu tivesse acabado de confessar um crime.

Eu sentia o coração a bater tão forte que quase não conseguia respirar. Tinha ensaiado este momento mil vezes na cabeça, mas nada me preparou para a violência real das emoções. Olhei para o Rui, sentado ao meu lado, com as mãos entrelaçadas nas minhas. Ele parecia calmo, mas eu sabia que por dentro também tremia.

— Mãe, pai… eu amo o Rui. E vamos casar. — A minha voz saiu mais fraca do que queria, mas não hesitei.

O silêncio caiu pesado. A minha irmã mais nova, Inês, olhava-me com os olhos muito abertos, como se estivesse a tentar perceber se aquilo era uma brincadeira. O meu irmão mais velho, Miguel, levantou-se abruptamente e saiu da sala sem dizer palavra.

A minha mãe começou a chorar. O meu pai levantou-se devagar, apoiando-se na cadeira como se tivesse envelhecido dez anos naquele instante.

— Mariana… ele tem a nossa idade. — A voz do meu pai era baixa, quase um sussurro. — Como é que isto aconteceu?

Eu sabia que devia uma explicação. Respirei fundo e tentei organizar os pensamentos.

— Conheci o Rui na livraria onde comecei a trabalhar no verão passado. Ele vinha lá quase todos os dias. Começámos a conversar sobre livros, depois sobre música… e percebi que nunca tinha conhecido ninguém que me entendesse tão bem. Sei que é estranho para vocês, mas eu nunca me senti tão viva como quando estou com ele.

A minha mãe levantou-se de repente e veio até mim.

— Mariana, tu tens 18 anos! Ele podia ser teu pai! — Agarrou-me nos ombros com força. — Isto não é amor, é uma ilusão! Ele está a aproveitar-se de ti!

O Rui levantou-se também, tentando manter a calma.

— Compreendo que seja difícil aceitar — disse ele, olhando diretamente para os meus pais. — Mas eu amo a Mariana. Nunca quis magoar ninguém. Só quero fazê-la feliz.

O meu pai virou-se para ele com uma expressão dura.

— Rui, tu tens filhos da idade dela? — perguntou com sarcasmo.

O Rui baixou os olhos.

— Tenho uma filha de 20 anos…

A minha mãe levou as mãos à cabeça e começou a andar de um lado para o outro.

— Isto é uma loucura…

Eu sentia-me dividida entre o amor pelo Rui e a dor de ver a minha família desmoronar-se à minha frente. Sempre fui a filha certinha, a aluna exemplar. Nunca lhes dei motivos para desconfiarem de mim. Mas agora via nos olhos deles não só choque, mas também medo — medo de me perderem para sempre.

Nessa noite ninguém dormiu em casa. O meu irmão só voltou de madrugada e nem me olhou nos olhos. A Inês chorou baixinho no quarto ao lado do meu. Eu fiquei sentada na cama, abraçada ao Rui, a pensar se tinha feito tudo mal.

Nos dias seguintes, a notícia espalhou-se pela família como fogo em mato seco. As minhas tias ligavam à minha mãe todos os dias; os meus avós recusaram-se a falar comigo. Na escola, os olhares eram inquisidores e os sussurros constantes.

Uma tarde, fui confrontada pela minha melhor amiga, Sofia.

— Mariana… tu tens a certeza disto? Não achas que estás a precipitar-te? Ele tem quase 50 anos…

— Eu sei o que estou a fazer — respondi, mas sentia-me cada vez mais sozinha.

O Rui tentava proteger-me do mundo exterior, mas eu via que também ele começava a vacilar. Os amigos afastaram-se dele; no trabalho começaram os comentários maldosos. Uma noite chegou a casa cabisbaixo.

— Mariana… não sei se consigo continuar assim. Não quero ser o motivo de te afastares da tua família.

Abracei-o com força.

— Eu escolhi-te, Rui. Não me peças para voltar atrás agora.

Mas as pressões aumentavam todos os dias. O meu pai recusava-se a falar comigo; a minha mãe chorava todas as noites; até a Inês deixou de me procurar para conversar sobre as pequenas coisas do dia-a-dia.

Um domingo à tarde, decidi enfrentar o meu pai. Encontrei-o na garagem, a arranjar o carro velho que sempre foi o seu orgulho.

— Pai… podemos falar?

Ele não respondeu de imediato. Continuou concentrado no motor até finalmente pousar as ferramentas e olhar para mim.

— O que queres que eu diga, Mariana? Que aceito isto? Que fico feliz por veres um homem da minha idade como futuro genro?

Senti as lágrimas a subir aos olhos.

— Só queria que tentasses perceber… Eu nunca me senti tão compreendida por alguém como pelo Rui. Não é só paixão ou rebeldia. É amor mesmo.

O meu pai suspirou fundo.

— Sabes… quando eras pequena e caías da bicicleta, vinhas sempre ter comigo para te curar os joelhos esfolados. Agora sinto que caíste outra vez e não posso fazer nada para te proteger.

Abracei-o com força e chorei como há muito não chorava.

Os meses passaram e o clima em casa continuava tenso. O casamento estava marcado para setembro e ninguém da minha família queria ir. O Rui sugeriu adiarmos tudo até as coisas acalmarem, mas eu sentia que se adiasse agora nunca teria coragem de avançar.

Na véspera do casamento, sentei-me sozinha no quarto com o vestido branco pendurado na porta do armário. A Inês entrou devagarinho e sentou-se ao meu lado.

— Tenho medo por ti — disse ela baixinho. — Não quero perder-te…

Agarrei-lhe na mão.

— Não me vais perder. Só preciso que confies em mim.

No dia do casamento, caminhei até ao altar com o coração apertado por ver tantos lugares vazios na igreja. Só alguns amigos do Rui estavam presentes; da minha família apenas a Inês teve coragem de aparecer.

Quando trocámos votos, olhei nos olhos do Rui e vi ali toda a certeza do mundo — mas também uma sombra de tristeza pelo preço que estávamos a pagar.

Os meses seguintes foram duros. A solidão pesava mais do que eu imaginara; as saudades da família eram constantes. O Rui fazia tudo para me animar, mas eu sentia falta das conversas com a minha mãe, das discussões com o Miguel, das risadas com a Inês.

Um dia recebi uma carta da minha mãe:

“Mariana,
Ainda não consigo aceitar as tuas escolhas, mas nunca vou deixar de ser tua mãe. Quando quiseres voltar para casa, estarei à tua espera.
Com amor,
Mãe”

Chorei durante horas ao ler aquelas palavras. Percebi então que o amor pode ser uma escolha difícil e solitária — e que cada decisão tem um preço alto a pagar.

Hoje olho para trás e pergunto-me: teria feito tudo igual? Valeu a pena perder tanto para seguir o coração? Será que algum dia vou recuperar o que perdi?
E vocês? Até onde iriam por amor?