Tinha tantos planos para o fim de semana… E depois a minha sogra ligou

— Mariana, preciso que venhas cá a casa este sábado. O teu cunhado vai trazer a nova namorada e quero que tudo esteja perfeito. — A voz da minha sogra, Dona Lurdes, soou autoritária do outro lado da linha, sem espaço para discussão.

Fiquei paralisada, o telemóvel quente na mão. O meu olhar cruzou-se com o do Rui, que estava sentado no sofá, finalmente relaxado depois de uma semana exaustiva. Tínhamos planeado um fim de semana só para nós: filmes, pizza caseira, talvez até um passeio à beira-mar. Mas agora tudo isso parecia desvanecer-se.

— Mãe, este fim de semana tínhamos combinado descansar… — tentei argumentar, a voz trémula.

— Mariana, não me compliques a vida. Sabes como é importante para o teu cunhado. E preciso de ti para ajudar com o jantar. — O tom dela endureceu ainda mais.

Desliguei o telefone com um suspiro pesado. Senti-me pequena, esmagada entre as expectativas da família do Rui e os meus próprios desejos. Olhei para ele, esperando algum apoio.

— O que foi? — perguntou ele, já a adivinhar.

— A tua mãe quer que vamos lá sábado. Precisa de ajuda para receber o teu irmão e a nova namorada.

Rui revirou os olhos e atirou a cabeça para trás no sofá.

— Outra vez? Mariana, diz-lhe que não podes. Já chega disso.

Mas eu sabia que não era assim tão simples. Desde que casei com o Rui, sentia-me sempre em dívida com a Dona Lurdes. Ela fazia questão de me lembrar que eu era “parte da família”, mas só quando lhe convinha. Quando precisava de alguém para ajudar na cozinha ou para organizar festas familiares.

Na sexta-feira à noite, tentei convencer-me de que não seria assim tão mau. Talvez até fosse divertido conhecer a nova namorada do Pedro. Mas no fundo sentia um nó no estômago. Sabia que Dona Lurdes ia encontrar defeitos em tudo: na comida, na arrumação da casa, até na forma como eu me vestia.

No sábado de manhã, acordei cedo e preparei-me como se fosse para uma batalha. Vesti uma blusa discreta — nada demasiado ousado — e prendi o cabelo num rabo-de-cavalo apertado. Rui resmungou durante todo o caminho até à casa dos pais dele.

Quando chegámos, Dona Lurdes já estava na cozinha, de avental posto e expressão severa.

— Mariana, ainda bem que chegaste. Vai já cortar as cebolas e depois vê se a mesa está posta como deve ser. — Nem um bom dia.

O Pedro chegou pouco depois com a tal namorada, Sofia. Era simpática, mas percebia-se logo que estava nervosa. Dona Lurdes olhou-a de cima a baixo antes de lhe dar um sorriso forçado.

O almoço foi um desfile de críticas veladas e comparações: “No meu tempo é que se cozinhava bem”, “A Mariana ainda está a aprender”. Senti-me cada vez mais pequena à mesa, enquanto Rui tentava desviar o assunto com piadas sem graça.

Depois do almoço, enquanto lavava a loiça sozinha — porque Dona Lurdes tinha ido mostrar as fotografias antigas à Sofia — ouvi uma conversa abafada na sala.

— A Mariana podia esforçar-se mais… — dizia Dona Lurdes, num tom baixo mas suficientemente alto para eu ouvir.

— Mãe, ela faz o que pode! — respondeu Rui, finalmente a defender-me.

Senti as lágrimas a quererem saltar-me dos olhos. Porque é que nunca era suficiente? Porque é que tudo o que fazia era sempre visto como obrigação e nunca como gesto de carinho?

Quando voltámos para casa nesse sábado à noite, Rui tentou animar-me:

— Esquece lá isso. A minha mãe é assim mesmo. Não vale a pena stressares.

Mas eu não conseguia desligar-me daquela sensação de impotência. Senti-me invadida, como se nem na minha própria vida pudesse decidir o que fazer ao fim de semana. Como se os meus desejos fossem sempre secundários em relação às necessidades dos outros.

No domingo acordei com uma mensagem da Dona Lurdes: “Obrigada pela ajuda ontem. Para a semana precisamos de falar sobre o aniversário do teu sogro”.

Olhei para o Rui e disse:

— Não aguento mais isto. Sinto que não tenho voz nesta família.

Ele abraçou-me em silêncio, mas percebi que também ele estava cansado daquele ciclo interminável de obrigações familiares.

Durante dias pensei em como poderia impor os meus limites sem magoar ninguém. Mas será possível agradar a todos sem nos perdermos a nós próprios? Será possível ser feliz quando sentimos que alguém decide por nós dentro da nossa própria casa?

E vocês? Já sentiram que os vossos limites são constantemente postos à prova pela família? Como conseguem lidar com isso sem perderem quem são?