Seis Anos no Sofá: Meu Casamento com um Preguiçoso

“Tiago, por favor, levanta desse sofá e vem jantar comigo!” Eu implorava, mas ele apenas resmungava algo inaudível, sem desviar os olhos da televisão. Era assim todas as noites. Eu me sentia invisível, como se minha presença não importasse mais. O amor que um dia nos uniu parecia ter se transformado em uma rotina monótona e sem vida.

Lembro-me de quando nos conhecemos na faculdade. Tiago era cheio de energia, sempre com ideias novas e planos para o futuro. Ele me conquistou com seu entusiasmo e paixão pela vida. Mas, ao longo dos anos, algo mudou. O trabalho no escritório parecia sugar toda a sua vitalidade, e ele se tornou um estranho para mim, alguém que eu mal reconhecia.

“Não é só cansaço, Tiago. É como se você tivesse desistido de tudo,” eu disse uma noite, tentando não deixar as lágrimas transbordarem. Ele suspirou profundamente, finalmente desligando a televisão para me encarar.

“Eu não desisti de nada, Inês. Só estou cansado,” ele respondeu, mas seus olhos não tinham o brilho de antes.

Os dias se transformaram em semanas, e as semanas em meses. Eu tentava de tudo para reacender a chama entre nós: jantares românticos, viagens de fim de semana, até mesmo terapia de casal. Mas nada parecia funcionar. Tiago estava preso em um ciclo interminável de trabalho e sofá.

“Talvez devêssemos tentar algo novo,” sugeri certa vez. “Quem sabe uma aula de dança ou uma caminhada no parque?”

Ele apenas balançou a cabeça. “Não estou com disposição para isso agora.”

A frustração crescia dentro de mim como uma tempestade prestes a explodir. Eu me sentia sozinha em nosso casamento, lutando contra uma maré que parecia impossível de vencer. Meus amigos notaram minha tristeza e tentaram me apoiar.

“Inês, você precisa pensar em si mesma também,” disse minha amiga Clara durante um café. “Não pode continuar assim para sempre.”

Mas como eu poderia desistir do homem que amava? Mesmo que ele não fosse mais o mesmo, ainda havia momentos em que eu via o Tiago de antes, aquele que me fazia rir até chorar.

Uma noite, após mais uma discussão sem solução, decidi que precisava de um tempo para mim mesma. Fui passar alguns dias na casa dos meus pais no interior. Lá, longe da cidade e do caos do dia a dia, pude refletir sobre tudo o que estava acontecendo.

“Filha, você parece tão abatida,” disse minha mãe ao me ver chegar. “O que está acontecendo?”

Contei a ela sobre meus problemas com Tiago, sobre como me sentia perdida e sem esperança. Ela me ouviu pacientemente, oferecendo conselhos sábios e palavras de conforto.

“O amor é uma escolha diária,” ela disse. “Mas você também precisa escolher ser feliz.”

Essas palavras ficaram comigo durante toda a minha estadia lá. Quando voltei para casa, estava decidida a ter uma conversa séria com Tiago sobre o futuro do nosso casamento.

“Tiago, precisamos falar,” comecei com firmeza. “Eu não posso continuar vivendo assim. Precisamos encontrar uma solução juntos ou…”

Ele me interrompeu, segurando minha mão com força. “Inês, eu sei que tenho sido difícil. Mas quero tentar mudar. Não quero perder você.”

Foi a primeira vez em muito tempo que senti esperança em suas palavras. Decidimos procurar ajuda profissional novamente e nos comprometer a fazer mudanças reais em nossas vidas.

A jornada não foi fácil. Houve recaídas e momentos de dúvida, mas aos poucos começamos a redescobrir o que nos uniu inicialmente. Tiago começou a se envolver mais nas atividades diárias e até encontrou um novo hobby que o tirava do sofá: a jardinagem.

Hoje, olhando para trás, vejo o quanto crescemos juntos apesar das dificuldades. Nosso casamento não é perfeito, mas é real e cheio de amor renovado.

E agora me pergunto: quantos casais vivem histórias semelhantes sem encontrar uma saída? Será que todos têm a chance de recomeçar como nós tivemos?