Quando o Meu Marido Partiu em Trabalho, a Minha Sogra Expulsou-me de Casa: Uma História de Coragem e Traição
— Não quero ouvir mais nada, Inês! Pega nas tuas coisas e sai já desta casa! — gritou a minha sogra, Dona Lurdes, com uma fúria que eu nunca tinha visto antes. O eco da sua voz ainda ressoava nas paredes da sala, misturando-se com o cheiro do café queimado que ela tinha deixado ao lume. Eu estava ali, parada, com as mãos a tremer e o coração a bater tão forte que parecia querer saltar do peito.
O meu marido, Miguel, tinha partido para o Porto há três dias, numa daquelas viagens de trabalho que se tornaram cada vez mais frequentes desde que foi promovido. Ficámos a viver com os pais dele para pouparmos dinheiro enquanto procurávamos um apartamento nosso. Nunca pensei que essa decisão me custasse tanto.
— Dona Lurdes, por favor… — tentei argumentar, mas ela cortou-me logo a palavra.
— Não me venhas com lágrimas de crocodilo! Eu sempre disse ao Miguel que tu não eras mulher para ele. Agora tenho provas! — atirou ela, atirando-me um envelope para cima da mesa.
Abri-o com mãos trémulas. Lá dentro estavam umas fotografias minhas a conversar com o meu amigo de infância, o Rui, no café da esquina. Estávamos a rir-nos de uma piada qualquer, mas nas fotos parecia tudo menos inocente. Senti o sangue fugir-me do rosto.
— Isto não é nada do que parece… — murmurei, mas ela nem quis ouvir.
— O Miguel merece melhor! — gritou ela, virando-me as costas.
Senti-me tão pequena naquele momento. Peguei na mala e subi ao quarto para arrumar algumas roupas. Cada passo era pesado, como se estivesse a caminhar sobre vidro partido. No corredor, cruzei-me com o sogro, o senhor António, que me olhou com pena mas não disse nada. O silêncio dele doeu mais do que as palavras da sogra.
Desci as escadas com a mala na mão e saí para a rua. Estava frio e começava a chover. Sentei-me num banco do jardim em frente à casa, sem saber para onde ir. Liguei ao Miguel, mas ele não atendeu. Mandei-lhe mensagens, expliquei tudo, mas só recebi silêncio em troca.
As horas passaram devagar. O telefone tocou finalmente ao fim da tarde. Era a minha mãe.
— Inês? Está tudo bem? — perguntou ela, preocupada.
Desatei a chorar. Contei-lhe tudo entre soluços. Ela disse-me para ir para casa dela imediatamente. Apanhei um autocarro e durante o caminho olhei pela janela, vendo Lisboa passar por mim como se fosse um filme triste.
Em casa da minha mãe, senti-me acolhida mas também envergonhada. O meu pai olhou para mim com aquele ar sério dele e disse:
— Sempre te avisei que aquela família era complicada…
Não respondi. Não tinha forças para discutir ou justificar nada.
Os dias seguintes foram um tormento. O Miguel não me respondia às mensagens nem às chamadas. A sogra espalhou pela família toda que eu tinha traído o filho dela. Até os meus cunhados começaram a olhar para mim de lado.
Uma noite, recebi finalmente uma mensagem do Miguel: “Precisamos de falar.”
Marcámos encontro num café discreto perto do trabalho dele. Quando cheguei, ele já lá estava, com ar cansado e olhos vermelhos.
— Inês… — começou ele, hesitante — A minha mãe mostrou-me as fotos…
— Miguel, por favor… O Rui é só um amigo! Conheces-o desde sempre!
Ele olhou para mim em silêncio durante uns segundos eternos.
— Eu quero acreditar em ti… Mas a minha mãe está tão convencida… E sabes como ela é…
Senti uma raiva crescer dentro de mim.
— E tu? Vais deixar que a tua mãe decida por ti? Vais acreditar nela em vez de mim?
Ele baixou os olhos.
— Preciso de tempo…
Levantei-me da mesa sem dizer mais nada. Saí para a rua e deixei as lágrimas caírem livremente. Senti-me traída não só pela sogra mas também pelo homem que prometeu estar ao meu lado nos bons e maus momentos.
Os dias passaram e comecei a procurar trabalho para poder alugar um quarto e recomeçar a minha vida. A minha mãe apoiou-me sempre, mas eu via nos olhos dela a preocupação constante.
Um dia, ao sair de uma entrevista de emprego num escritório de contabilidade em Alvalade, cruzei-me com a Dona Lurdes na rua. Ela olhou para mim com desprezo e sussurrou:
— Espero que tenhas aprendido a lição.
Não respondi. Segui em frente de cabeça erguida.
Consegui finalmente arranjar trabalho como assistente administrativa numa pequena empresa familiar. Com o primeiro ordenado aluguei um quarto numa casa partilhada com outras duas raparigas, a Joana e a Marta. Elas tornaram-se rapidamente amigas e confidentes. Pela primeira vez em meses senti-me menos sozinha.
O Miguel continuava sem dar notícias. Um dia recebi uma carta dele:
“Inês,
Desculpa por tudo o que aconteceu. Não soube lidar com a pressão da minha mãe nem com as dúvidas que me assaltaram. Sei agora que errei ao não confiar em ti. Se ainda quiseres falar comigo, estarei à tua espera no jardim onde costumávamos passear.”
Fiquei horas a olhar para aquela carta. Parte de mim queria correr para ele; outra parte sentia-se demasiado magoada para voltar atrás.
Fui ao jardim no dia combinado. O Miguel estava lá, nervoso.
— Inês… Perdoa-me. Fui fraco. Deixei que a minha mãe destruísse aquilo que tínhamos.
Olhei-o nos olhos e vi sinceridade no seu pedido de desculpa. Mas também vi medo — medo de crescer, de se libertar da influência da mãe.
— Miguel… Eu amei-te muito. Mas agora aprendi a amar-me mais a mim mesma. Preciso de seguir em frente sem ti.
Ele chorou. Eu também chorei. Abraçámo-nos uma última vez e cada um seguiu o seu caminho.
Hoje olho para trás e vejo tudo o que perdi — mas também tudo o que ganhei: independência, força e novas amizades. Ainda dói pensar na traição da família dele, mas sei que sou mais forte por ter passado por isto tudo.
Às vezes pergunto-me: quantas mulheres passam pelo mesmo todos os dias? Quantas são julgadas injustamente pelas famílias dos maridos? Será que alguma vez vamos conseguir ser donas das nossas próprias histórias?