Quando a Minha Ex-Sogra Tentou Roubar a Minha Vida – O Meu Combate por Liberdade e Justiça
— Não vou permitir que me tires o que é meu! — gritei, com a voz embargada, enquanto segurava o telefone com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. Do outro lado da linha, a voz fria da Dona Lurdes, minha ex-sogra, ecoava pela casa vazia: — O meu filho trabalhou tanto quanto tu para aquela casa. Tenho direito à metade. Não penses que vou desistir.
Naquele instante, senti o chão fugir-me dos pés. Era como se todo o sofrimento do divórcio, todas as noites em claro e as discussões intermináveis com o Rui, tivessem sido apenas o prelúdio para um novo capítulo de dor. A casa onde vivi dez anos, onde vi crescer o meu filho Tiago, estava agora à venda. E Dona Lurdes queria metade do dinheiro — como se eu fosse uma intrusa na minha própria vida.
Nunca gostei dela. Desde o início do meu casamento com o Rui, percebi que ela me via como uma ameaça. “A minha família sempre foi unida”, dizia ela, olhando-me de cima a baixo, como se eu fosse um vírus prestes a contaminar o seu mundo perfeito. Quando engravidei do Tiago, as coisas pioraram. “O menino é nosso”, repetia ela, como se eu fosse apenas uma incubadora.
Depois do divórcio, pensei que finalmente teria paz. Mas Dona Lurdes não sabia perder. Apareceu em minha casa com um advogado — um primo afastado da família — e uma pilha de papéis. “O Rui não está bem”, disse ela, “e tu aproveitaste-te dele para ficares com tudo.” O Rui, calado ao lado dela, evitava olhar-me nos olhos. Senti-me traída por todos.
Os dias seguintes foram um pesadelo. O telefone não parava de tocar: advogados, amigos em comum, até vizinhos que ouviam rumores e queriam saber “o que se passava”. O Tiago, com apenas oito anos, percebia que algo estava errado. Uma noite, entrou no meu quarto e perguntou:
— Mãe, vamos ter de sair daqui?
Abracei-o com força. — Não sei, filho. Mas prometo que vou fazer tudo para ficarmos juntos.
As noites tornaram-se longas e solitárias. Sentia-me perdida entre papéis legais e recordações de uma vida que já não existia. Lembrei-me das tardes em que cozinhava bacalhau à Brás para o Rui e ele elogiava o tempero — agora tudo parecia mentira. As palavras da Dona Lurdes ecoavam na minha cabeça: “Nunca foste suficiente para ele.”
Procurei ajuda numa advogada recomendada por uma amiga. A Dra. Sofia era dura e pragmática:
— Tens de ser forte. Eles vão tentar tudo para te assustar. Mas a lei está do teu lado.
Mesmo assim, cada reunião era um teste à minha coragem. Na primeira audiência, Dona Lurdes olhou-me com desprezo:
— Só te importas com dinheiro.
Respirei fundo e respondi:
— Só quero justiça.
O Rui continuava calado. Às vezes ligava-me à noite, bêbado:
— Desculpa… A minha mãe está a enlouquecer… Eu não sei o que fazer…
Mas nunca tomava partido por mim. Senti raiva dele — e de mim própria, por ainda esperar alguma coisa.
A pressão aumentava. Recebi mensagens anónimas: “Ladrã!”, “Aproveitadora!”. Alguém riscou o meu carro no estacionamento do prédio. Os meus pais começaram a evitar falar sobre o assunto; tinham vergonha dos vizinhos.
Uma tarde, ao buscar o Tiago à escola, vi Dona Lurdes à porta do portão.
— O menino devia ficar connosco — disse ela, sem rodeios. — Aqui não tem futuro.
— O futuro dele sou eu — respondi, sentindo as lágrimas ameaçarem cair.
O Tiago percebeu a tensão e agarrou-se à minha mão.
Em casa, tentei manter alguma normalidade: ajudava-o nos trabalhos de casa, fazíamos panquecas ao domingo, víamos filmes antigos na RTP Memória. Mas eu estava exausta. Comecei a perder peso; deixei de dormir.
Uma noite, desabei em lágrimas na cozinha. A minha mãe apareceu sem avisar:
— Filha… não deixes que te destruam. Tu és mais forte do que pensas.
Abracei-a como uma criança perdida.
O processo arrastou-se durante meses. Cada carta do tribunal era uma punhalada no peito. O Rui começou a aparecer menos; ouvi dizer que estava a viver com outra mulher em Setúbal.
No Natal, Dona Lurdes enviou um presente para o Tiago: um carrinho telecomandado caro demais para quem nunca lhe dera nada antes.
— Ela quer comprar-te — disse-lhe eu.
Ele olhou-me com olhos tristes:
— Eu só quero que parem de discutir…
Senti-me miserável por arrastá-lo para esta guerra.
Finalmente chegou o dia da decisão judicial. Sentei-me no banco do tribunal com as mãos geladas. Dona Lurdes estava impecável, de luto cerrado como se fosse ao funeral da sua dignidade.
O juiz leu a sentença: a casa era minha por direito; Dona Lurdes não tinha qualquer legitimidade para reclamar metade do dinheiro da venda.
Ela levantou-se abruptamente:
— Isto é uma vergonha! — gritou. — Vou recorrer!
Mas sabia que tinha perdido.
Saí do tribunal com as pernas bambas. A Dra. Sofia sorriu:
— Ganhámos.
Mas eu não sentia vitória — só cansaço e vazio.
Nos dias seguintes tentei reconstruir a minha vida: vendi a casa e aluguei um pequeno apartamento em Benfica; recomecei devagarinho. O Tiago adaptou-se melhor do que eu esperava; fizemos novos amigos no bairro e comecei até a sair para tomar café com colegas do trabalho.
Mas as cicatrizes ficaram: sempre que ouço um telefone tocar tarde da noite, sinto um aperto no peito; sempre que vejo uma mulher mais velha de cabelo grisalho na rua, penso em Dona Lurdes e no ódio que me dedicou sem razão aparente.
Às vezes pergunto-me: será que fiz tudo certo? Será que poderia ter evitado tanta dor? Ou será que há batalhas na vida que simplesmente temos de enfrentar para descobrir quem realmente somos?
E vocês? Já sentiram que alguém tentou roubar-vos não só bens materiais mas também a vossa paz? Como reagiram?