O Meu Filho Casou, Mas Quer Que Eu Seja a Empregada Dele – Por Dinheiro!

— Mãe, precisamos mesmo da tua ajuda. A casa está um caos e… bem, a Inês não tem jeito nenhum para isto. Eu pago-te, claro. — As palavras do Tiago ecoaram na minha cabeça como um trovão inesperado numa tarde de verão.

Fiquei ali, parada na cozinha da minha própria casa, o pano de loiça ainda húmido nas mãos. O meu filho, o meu Tiago, aquele bebé que embalei noites sem fim, agora queria contratar-me como empregada doméstica. Por dinheiro. Senti o peito apertar-se, uma mistura de vergonha e raiva a subir-me à garganta.

— Achas que sou tua criada? — perguntei, tentando controlar a voz que tremia. — Ou achas que o amor de mãe se paga à hora?

Ele desviou o olhar, envergonhado. — Não é isso, mãe… Só queremos ajuda. A Inês trabalha muito e eu também. Não conseguimos dar conta de tudo.

Olhei para ele, para aquele homem feito que ainda era o meu menino. Mas não consegui evitar pensar em tudo o que tinha sonhado para ele. Sempre imaginei que casaria com alguém como a Ana, aquela vizinha tão simpática e prendada. Mas ele escolheu a Inês: moderna, independente, sempre com pressa e pouco dada a conversas de família.

A verdade é que nunca consegui gostar dela. Não era má pessoa, mas não era o que eu queria para o Tiago. E agora, sentia-me empurrada para dentro da vida deles como uma peça fora do lugar.

— E a tua mulher? Não sabe limpar uma casa? — perguntei, já sem conseguir esconder o desdém.

Tiago suspirou. — Mãe, por favor… Não compliques. Só precisamos de ti por umas semanas. Pagamos-te bem.

Fiquei calada. O silêncio entre nós era pesado, quase sufocante. Lembrei-me das vezes em que a minha mãe dizia: “Os filhos crescem e esquecem-se de quem lhes limpou as lágrimas.” Nunca pensei que fosse verdade.

No dia seguinte, bati à porta deles com um saco de produtos de limpeza na mão. A Inês abriu a porta com um sorriso forçado.

— Olá, D. Rosa! Que bom vê-la! — disse ela, mas os olhos fugiam dos meus.

— Vim fazer o que o Tiago pediu — respondi seca.

Ela encolheu os ombros e desapareceu para o escritório improvisado na sala. Fiquei sozinha na cozinha deles, rodeada de loiça suja e migalhas no chão. Comecei a limpar mecanicamente, mas cada movimento parecia um insulto à minha dignidade.

Durante semanas, repeti aquele ritual: entrava calada, limpava tudo e saía antes do jantar. O Tiago deixava envelopes com dinheiro em cima da mesa da entrada. Nunca os toquei.

Uma tarde, ouvi-os discutir no quarto ao lado.

— Não quero que a tua mãe venha cá todos os dias! — gritava a Inês. — Isto não é normal!

— Precisas de ajuda e ela está disponível! — respondeu o Tiago, irritado.

— Não é ajuda se ela faz isto contrariada! E eu não quero sentir-me uma inútil na minha própria casa!

Senti as lágrimas a escorrerem-me pelo rosto enquanto esfregava o fogão. Ouvia tudo: as acusações, os ressentimentos, as mágoas acumuladas. Percebi que não era só eu que me sentia deslocada; eles também estavam perdidos.

Nessa noite, sentei-me no meu sofá e olhei para as mãos gretadas do detergente. Lembrei-me do dia em que o Tiago nasceu: tão pequeno, tão frágil. Prometi-lhe nesse dia que faria tudo por ele. Mas nunca pensei que “tudo” significasse perder-me a mim mesma.

No domingo seguinte, recusei ir lá. O telefone tocou vezes sem conta; ignorei todas as chamadas. Senti-me livre e culpada ao mesmo tempo.

Dias depois, o Tiago apareceu à minha porta.

— Mãe, precisamos de falar.

Abri-lhe a porta sem dizer palavra. Ele entrou e ficou parado no corredor.

— A Inês quer separar-se — disse ele de repente. — Diz que não aguenta mais esta pressão… Que sente que nunca vai ser suficiente para ti… Nem para mim.

Senti um nó na garganta. — E tu? O que queres?

Ele olhou para mim com olhos vermelhos de chorar. — Quero a minha família de volta… Mas não sei como fazer isto funcionar.

Sentei-me ao lado dele e peguei-lhe nas mãos.

— Filho… Talvez tenhamos todos errado. Eu nunca aceitei verdadeiramente a Inês porque ela não era como eu queria. E tu tentaste resolver tudo à força… Mas há coisas que não se podem forçar.

Ele chorou no meu ombro como quando era criança. Pela primeira vez em anos, senti que falávamos de coração aberto.

Na semana seguinte, convidei a Inês para tomar um café comigo. Ela veio desconfiada, mas sentou-se à minha frente na pastelaria do bairro.

— Inês… Quero pedir-te desculpa — comecei, com voz trémula. — Fui injusta contigo desde o início. Nunca te dei uma verdadeira oportunidade porque estava presa às minhas ideias antigas…

Ela olhou para mim surpreendida, os olhos marejados de lágrimas.

— Eu também errei… Senti-me sempre julgada e tentei afastar-me em vez de lutar pela nossa relação — confessou ela.

Ficámos ali horas à conversa. Pela primeira vez vi nela uma mulher frágil e forte ao mesmo tempo, alguém que só queria ser aceite.

Com o tempo, deixei de limpar a casa deles e comecei a visitá-los como mãe e sogra apenas. A relação melhorou devagarinho; aprendi a admirar a Inês pelo que ela era e não pelo que eu queria que fosse.

Hoje olho para trás e pergunto-me: quantas famílias se destroem por expectativas não ditas? Quantas mães perdem os filhos por não saberem largar o controlo? Será possível amar sem querer moldar o outro à nossa imagem? Gostava de saber o que pensam…