No Telemóvel do Meu Marido de 63 Anos, Encontrei Mensagens de Outra Mulher: Não Quis Discutir Nem Suspeitar, Mas Depois Voltou a Acontecer
— Maria, quem é a Sílvia? — perguntei-lhe com a voz trémula, segurando o telemóvel dele nas mãos, o ecrã ainda iluminado com aquela mensagem que me gelou o sangue. António olhou-me, primeiro confuso, depois com aquele olhar cansado de quem já não quer discutir. — Não é nada, Maria. É só uma colega do grupo de caminhadas. Estás a fazer filmes na tua cabeça.
Mas eu sabia que não era só isso. O tom das mensagens era demasiado íntimo, havia emojis de corações e frases como “mal posso esperar para te ver outra vez”. Senti-me ridícula, ali na cozinha da nossa casa em Setúbal, depois de 35 anos de casamento, a duvidar do homem com quem partilhei tudo: alegrias, dívidas, filhos, doenças e sonhos.
António sempre foi um homem reservado. Trabalhava como contabilista numa pequena empresa local e nunca gostou de grandes festas ou confusões. Eu era o oposto: faladora, cheia de amigos, sempre pronta para um café ou um passeio à beira-mar. Talvez por isso nos tenhamos apaixonado tão rápido. Conhecemo-nos numa festa de São João em Lisboa; ele estava encostado a um canto, tímido, e eu puxei-o para dançar. Três anos depois casámos e viemos viver para Setúbal, onde nasceram os nossos filhos: a Inês e o Miguel.
A vida não foi fácil. Houve meses em que mal tínhamos dinheiro para pagar a renda, discussões por causa dos sogros, noites sem dormir quando a Inês teve pneumonia. Mas sobrevivemos a tudo juntos. Quando os miúdos saíram de casa — ela para o Porto, ele para Faro — senti um vazio enorme. António parecia aliviado com o silêncio, mas eu sentia falta do barulho, das discussões à mesa, das risadas.
Nos últimos anos tentei preencher esse vazio com voluntariado na paróquia e aulas de pintura. António começou a caminhar com um grupo do bairro. Foi aí que conheceu a tal Sílvia. Nunca desconfiei de nada até aquele dia em que o telemóvel dele vibrou enquanto ele estava no banho. Não sou mulher de mexer nas coisas dos outros, mas algo me levou a pegar no aparelho.
As mensagens eram recentes. “Adorei ontem à noite”, dizia uma delas. Outra: “A tua mulher não desconfia?” Senti-me traída e humilhada. Mas não quis armar escândalo. Esperei que ele saísse do banho e confrontei-o calmamente. Ele negou tudo, disse que era só conversa inocente.
Durante dias tentei convencer-me disso. Mas não conseguia dormir. Comecei a reparar em pequenos detalhes: António chegava mais tarde dos passeios, estava mais vaidoso com a roupa, passava mais tempo no telemóvel. Um domingo à tarde, enquanto ele dormia no sofá, voltei a ver mensagens novas: “Quando voltamos ao nosso sítio?” e uma selfie dos dois num café da Arrábida.
Desta vez não consegui conter-me. Liguei à Inês em lágrimas. Ela ficou em choque: — Mãe, tens a certeza? O pai nunca foi desse tipo! — Não sei do que ele é capaz — respondi-lhe entre soluços.
Miguel também ficou transtornado quando soube: — Queres que vá aí falar com ele? — Não filho, isto é entre mim e o teu pai.
Durante semanas vivi num limbo: fingia normalidade durante o dia e chorava à noite. António percebeu que algo estava errado mas evitava o confronto. Até que uma noite explodi:
— Porque é que me fazes isto? Depois de tudo o que passámos juntos? — gritei-lhe na sala, já sem forças para manter as aparências.
Ele calou-se durante um longo minuto antes de responder:
— Maria… Eu sinto-me sozinho há anos. Tu tens sempre mil coisas para fazer, nunca estás em casa… Eu só queria sentir-me vivo outra vez.
As palavras dele magoaram-me mais do que qualquer traição física. Como é possível sentir-se sozinho ao lado da pessoa com quem partilhámos uma vida inteira?
Nos dias seguintes mal falámos um com o outro. A casa parecia ainda maior e mais fria. Os filhos ligavam todos os dias mas eu não tinha coragem para lhes contar tudo. As amigas da paróquia começaram a reparar na minha tristeza:
— Está tudo bem contigo? — perguntava a Dona Rosa.
— São fases… — respondia eu, sem conseguir olhar nos olhos dela.
Uma tarde decidi ir ao grupo de caminhadas onde António conheceu Sílvia. Queria ver com os meus próprios olhos quem era aquela mulher. Quando cheguei ao parque vi-os juntos, riam-se como dois adolescentes. Sílvia era mais nova do que eu imaginava, talvez uns cinquenta anos, cabelo curto pintado de loiro e uma gargalhada contagiante.
Senti-me invisível ali ao lado deles. Voltei para casa sem dizer nada.
Nessa noite António chegou mais cedo e tentou falar comigo:
— Maria… Eu não quero perder-te. Mas também não sei se consigo continuar assim.
— Assim como? — perguntei-lhe.
— Como dois estranhos na mesma casa.
As palavras dele ecoaram na minha cabeça durante dias. Pensei em tudo o que tínhamos construído juntos: os filhos, as viagens ao Algarve, as noites em frente à lareira… Será que tudo isso não valia nada?
Procurei ajuda numa psicóloga da junta de freguesia. Falei-lhe das minhas dores, das minhas dúvidas, da minha raiva e da minha solidão. Ela disse-me algo que nunca vou esquecer:
— Às vezes é preciso perder-se para se voltar a encontrar.
Comecei a sair mais sozinha: ia ao cinema, passeava pela praia da Figueirinha, inscrevi-me numa aula de dança sénior. Aos poucos fui recuperando partes de mim que tinha esquecido.
António continuou com as caminhadas mas percebi que também estava mais calado, mais triste. Um dia sentou-se ao meu lado na varanda:
— Maria… Podemos tentar outra vez?
Olhei para ele durante muito tempo antes de responder:
— Não sei se consigo perdoar-te já… Mas talvez possamos aprender a ser felizes de outra maneira.
Hoje vivemos juntos mas separados por uma distância invisível. Os filhos vêm visitar-nos aos fins-de-semana e fingimos normalidade por eles. Às vezes penso se teria sido melhor separar-me logo; outras vezes agradeço por ter tido coragem de enfrentar tudo isto sem perder quem sou.
Pergunto-me muitas vezes: quantas mulheres vivem histórias como a minha em silêncio? E será possível reconstruir um amor depois da traição? Gostava de ouvir as vossas opiniões…