Ele Recusou-se a Casar com a Namorada Grávida. A Mãe Apoia-o: O Pai Decide Agir
— Então vais fugir das tuas responsabilidades, Miguel? — A voz do meu pai ecoou pela cozinha, dura como pedra. — És homem para deitar uma rapariga abaixo, mas não para assumir as consequências?
O silêncio caiu pesado. A minha mãe, Teresa, estava encostada à bancada, os olhos vermelhos de tanto chorar. Eu sentia o coração a bater tão forte que quase me sufocava. Tinha acabado de lhes contar: a Inês, minha namorada desde o secundário, estava grávida. E eu… eu não queria casar.
— Pai, eu só tenho vinte anos! — tentei argumentar, a voz a tremer. — Não estou preparado para isto. Não quero casar só porque… aconteceu um acidente.
Ele bufou, descrente.
— Não queres casar? Então o que queres fazer? Fingir que nada aconteceu? Deixar a Inês sozinha com um filho?
A minha mãe aproximou-se e pousou uma mão no meu ombro.
— António, por favor… — sussurrou ela ao meu pai. — O Miguel está assustado. Não podemos obrigá-lo a nada.
O meu pai virou-se para ela, olhos faiscantes.
— Não podemos? E depois? O que vão dizer os vizinhos? A família da Inês? Achas que isto é brincadeira?
Eu sentia-me esmagado entre eles, como se fosse uma criança outra vez. Mas já não era criança. E não queria ser forçado a tomar uma decisão que mudaria toda a minha vida só porque era o que se esperava de mim.
Naquela noite, fechei-me no quarto. O telemóvel vibrava sem parar: mensagens da Inês, dos amigos, até da mãe dela. Não respondi a ninguém. Fiquei ali, deitado na cama, a olhar para o teto, a pensar em tudo o que podia perder — e tudo o que podia ganhar — se tomasse uma decisão ou outra.
No dia seguinte, fui trabalhar para o café do meu tio como sempre. Mas sentia os olhares sobre mim. A notícia espalhara-se depressa numa vila pequena como a nossa. A D. Rosa, cliente habitual, olhou-me de cima a baixo e murmurou algo para a amiga. Senti-me nu.
À noite, a Inês apareceu à porta de casa. Estava pálida, os olhos inchados de tanto chorar.
— Miguel, precisamos de falar — disse ela, sem rodeios.
Fomos até ao jardim das traseiras. Ela sentou-se no banco de pedra e eu fiquei de pé, mãos nos bolsos.
— Não quero obrigar-te a nada — começou ela, voz baixa. — Mas preciso de saber se vais estar ao meu lado ou não.
Olhei para ela e vi o medo nos olhos dela. O mesmo medo que eu sentia.
— Eu… não sei — admiti. — Tenho medo de estragar tudo. De não ser bom pai. De te magoar ainda mais.
Ela respirou fundo.
— Eu também tenho medo. Mas isto não é só sobre nós dois agora.
Ficámos ali em silêncio durante minutos eternos. Depois ela levantou-se e foi embora sem dizer mais nada.
Quando voltei para dentro, o meu pai estava à minha espera na sala.
— Amanhã vais falar com o pai da Inês — disse ele, sem espaço para discussão. — Vais assumir o que fizeste.
Olhei para a minha mãe em busca de apoio. Ela apenas baixou os olhos.
Na manhã seguinte, fui à casa da Inês com o meu pai ao lado. O Sr. Joaquim recebeu-nos com uma expressão fechada.
— Então? — perguntou ele assim que nos sentámos à mesa da cozinha.
O meu pai falou por mim:
— O Miguel vai casar com a sua filha. É o correto.
Eu senti um nó na garganta. Quis protestar, mas as palavras morreram-me na boca.
O Sr. Joaquim olhou-me nos olhos.
— E tu? Queres casar com a minha filha?
Engoli em seco.
— Eu… não sei se estou preparado…
O silêncio foi cortante. O meu pai levantou-se abruptamente.
— Se não assumes agora, nunca mais entras nesta casa! — gritou ele.
A Inês apareceu à porta da cozinha nesse momento, lágrimas a correr-lhe pelo rosto.
— Chega! — gritou ela. — Isto não é justo! Não quero casar com alguém que não me ama ou não está pronto!
O Sr. Joaquim tentou acalmá-la, mas ela saiu disparada pela porta fora.
O meu pai agarrou-me pelo braço e arrastou-me para fora da casa dos vizinhos.
— És uma vergonha! — sussurrou ele entre dentes. — Sempre foste fraco!
Em casa, fechei-me no quarto outra vez. A minha mãe bateu à porta horas depois.
— Miguel… — chamou ela baixinho. — Eu compreendo-te. Mas tens de decidir o que queres da tua vida.
Sentei-me na cama e desatei finalmente a chorar como uma criança perdida.
Os dias seguintes foram um inferno: discussões constantes entre os meus pais; telefonemas do Sr. Joaquim; mensagens desesperadas da Inês; olhares reprovadores na rua; até o meu irmão mais novo deixou de me falar.
Uma noite ouvi os meus pais a discutir na cozinha:
— Ele tem de aprender a ser homem! — gritava o meu pai.
— Ele precisa é de apoio! — respondia a minha mãe entre soluços.
No meio deste caos todo, perdi o emprego no café do meu tio: “Não quero problemas aqui”, disse ele secamente.
Comecei a sair sozinho à noite só para fugir ao ambiente sufocante em casa. Uma dessas noites encontrei a Inês sentada num banco do jardim público. Estava sozinha, abraçada à barriga já visível sob o casaco largo.
Sentei-me ao lado dela sem dizer nada durante muito tempo.
— Desculpa — murmurei finalmente. — Desculpa por tudo isto.
Ela olhou para mim com tristeza infinita nos olhos.
— Não és só tu que tens medo, Miguel… Mas eu vou seguir em frente com ou sem ti.
Nesse momento percebi que estava prestes a perder tudo: não só uma namorada ou um filho, mas também quem eu era antes disto tudo acontecer.
Voltei para casa decidido a falar com os meus pais. Encontrei-os sentados à mesa da cozinha em silêncio pesado.
— Quero assumir o bebé — disse eu finalmente. — Mas não quero casar agora só porque sim. Quero ser pai presente e ajudar a Inês em tudo… mas preciso de tempo para crescer também.
O meu pai levantou-se devagar e saiu sem dizer palavra. A minha mãe levantou-se e abraçou-me com força.
Os meses seguintes foram difíceis: arranjei trabalho numa oficina; comecei a ir às consultas com a Inês; enfrentei os olhares e os comentários; aprendi a mudar fraldas e a preparar biberões antes sequer do bebé nascer.
Quando o Tomás nasceu, chorei como nunca tinha chorado antes. Senti medo… mas também um amor imenso por aquele ser tão pequeno e indefeso nos meus braços.
O meu pai apareceu no hospital no dia seguinte. Olhou para mim e depois para o neto recém-nascido nos braços da Inês.
— Fizeste bem em assumir — disse ele finalmente, voz rouca de emoção contida. — Talvez eu tenha sido demasiado duro contigo…
Abracei-o pela primeira vez em anos e senti que algo se curava dentro de mim naquele instante.
Agora olho para trás e pergunto-me: teria sido diferente se tivéssemos conversado mais cedo? Se tivéssemos ouvido uns aos outros em vez de gritar? Quantas famílias se destroem por orgulho ou medo?
E vocês? O que fariam se estivessem no meu lugar?