Ele Foi-se Embora Quando Eu Estava Grávida de Nove Meses, Mas Três Anos Depois Voltou a Pedir Perdão

— Vais mesmo sair agora, Brian? — perguntei, sentindo o peso da barriga e das palavras que pairavam no ar como nuvens carregadas. O relógio marcava quase meia-noite e eu sentia as contrações a aproximarem-se, mas ele já tinha a mala feita.

Ele não me olhou nos olhos. — Preciso de espaço, Gianna. Isto não está a resultar. Não consigo respirar aqui.

A minha voz tremeu. — Não consegues respirar? Eu estou prestes a dar à luz ao nosso filho e tu… tu vais-te embora?

O silêncio dele foi mais doloroso do que qualquer grito. O som da porta a fechar ecoou pelo apartamento como um trovão. Fiquei ali, sozinha, com o coração a bater descompassado e uma vida prestes a nascer dentro de mim.

Chorei até não ter mais lágrimas. Lembro-me de olhar para o teto do quarto, as sombras dançando nas paredes, e perguntar-me como é que tudo tinha chegado àquele ponto. Sete anos juntos, sempre cada um na sua casa, cada um com os seus hábitos e manias. Diziam que era estranho, mas para nós fazia sentido. Até ao dia em que o teste de gravidez deu positivo e tudo mudou.

A pressão da família foi imensa. A minha mãe, Dona Teresa, não parava de repetir: — Agora tens de casar, filha. Não podes criar uma criança sozinha. — O meu pai, mais calado, apenas me olhava com aquele olhar triste de quem sabe que a vida nem sempre segue o caminho que sonhámos.

Brian parecia nervoso desde o início da gravidez. Não queria falar sobre nomes, sobre o quarto do bebé, sobre fraldas ou planos para o futuro. Sempre que eu tentava puxar conversa, ele desviava o olhar ou inventava desculpas para sair. Eu achava que era medo, mas nunca imaginei que fosse fugir.

Naquela noite, depois de ele sair, as dores intensificaram-se. Liguei à minha mãe em pânico. Ela chegou em minutos e levou-me ao hospital. O parto foi difícil, demorado. Quando finalmente ouvi o choro da minha filha, Sofia, senti uma alegria misturada com uma tristeza profunda. Ela era perfeita — olhos grandes e curiosos, cabelo escuro como o do pai.

Os primeiros meses foram um turbilhão. Entre noites sem dormir, fraldas e biberões, tentei reconstruir-me. A minha mãe ajudava como podia, mas eu sentia-me sozinha no meio de tudo aquilo. As pessoas perguntavam por Brian e eu inventava desculpas: — Está a trabalhar fora… — Até que deixaram de perguntar.

O tempo passou devagar. Sofia crescia rápido e cada sorriso dela era um bálsamo para as minhas feridas. Mas havia dias em que a raiva me consumia. Como é que ele pôde abandonar-nos? Como é que alguém vira costas ao próprio filho?

Três anos depois, numa tarde chuvosa de novembro, ouvi bater à porta. Sofia brincava no tapete da sala com os seus blocos coloridos. Abri a porta e ali estava ele — Brian, mais magro, cabelo desgrenhado, olhos fundos.

— Gianna… — disse ele, a voz embargada.

Fiquei imóvel. O meu corpo inteiro ficou tenso como se estivesse prestes a fugir ou atacar.

— O que estás aqui a fazer? — perguntei seca.

Ele olhou para o chão antes de responder: — Preciso de falar contigo… convosco.

Sofia apareceu à porta da sala e olhou para ele com curiosidade. Brian ficou sem palavras ao vê-la.

— É ela? — murmurou.

— É a tua filha — respondi fria.

Ele ajoelhou-se devagar para ficar ao nível dela. — Olá, Sofia… Eu sou o Brian.

Ela apenas sorriu timidamente e voltou para os brinquedos.

Fechei a porta atrás dele e ficámos os dois na cozinha, separados pela mesa como dois estranhos.

— Porquê agora? — perguntei finalmente.

Ele passou as mãos pelo rosto. — Não há desculpa para o que fiz. Fugi porque tive medo… medo de falhar como pai, medo de perder quem eu era… Medo de tudo. Mas nunca deixei de pensar em vocês.

Senti uma raiva antiga a borbulhar dentro de mim. — E achas que agora é fácil? Que podes simplesmente voltar e fingir que nada aconteceu?

Ele abanou a cabeça, lágrimas nos olhos. — Não quero fingir nada. Quero pedir-te perdão… Quero conhecer a Sofia, quero tentar ser pai dela…

As palavras dele ecoaram na minha cabeça durante dias. A minha mãe ficou furiosa quando soube da visita dele.

— Ele não merece uma segunda oportunidade! — gritou ela na cozinha enquanto preparava o jantar.

— Mãe… Sofia tem direito a conhecer o pai — respondi baixinho.

O meu pai limitou-se a dizer: — Só tu sabes o que é melhor para ti e para ela.

As semanas seguintes foram estranhas. Brian começou a aparecer aos poucos: levava Sofia ao parque, lia-lhe histórias antes de dormir. Ela adorava-o — era impossível não gostar daquele sorriso desajeitado e das piadas tontas que inventava só para a fazer rir.

Mas eu continuava desconfiada. Tinha medo de me magoar outra vez. Tinha medo por mim… mas sobretudo por ela.

Uma noite, depois de adormecer Sofia, sentei-me com Brian na varanda.

— Porque voltaste mesmo? — insisti.

Ele olhou para mim com sinceridade nos olhos. — Porque percebi que não posso fugir do que sou… E sou pai da Sofia. E ainda te amo, Gianna.

O silêncio caiu entre nós como um manto pesado. Queria acreditar nele, queria perdoar… mas as cicatrizes eram profundas demais.

— Não sei se consigo confiar em ti outra vez — confessei.

Ele pegou na minha mão com delicadeza. — Não te peço que confies já… só te peço uma oportunidade para provar que mudei.

Os meses passaram e fomos aprendendo a ser família aos poucos: com erros, discussões e reconciliações. A minha mãe demorou a aceitar Brian de volta; os vizinhos cochichavam; até amigos antigos se afastaram por não entenderem as minhas escolhas.

Mas Sofia era feliz — e isso era tudo o que importava.

Hoje olho para trás e vejo uma mulher diferente daquela noite em que fui abandonada: mais forte, mais cautelosa… mas também mais capaz de perdoar.

Às vezes pergunto-me: será possível reconstruir algo depois de tanta dor? Será o perdão suficiente para curar todas as feridas? E vocês… conseguiriam perdoar alguém assim?