Depois do Divórcio, Perdi os Meus Netos: O Preço de Defender o Meu Filho

— Não vou permitir que ela fique com tudo, mãe! — gritou o Tiago, com as mãos a tremerem enquanto segurava a chávena de café na cozinha. O relógio marcava quase meia-noite, mas ninguém conseguia dormir naquela casa desde que a Sofia lhe entregara os papéis do divórcio.

Eu sentia o coração apertado. O meu filho, o meu menino, agora homem feito e pai de dois filhos maravilhosos, estava a desmoronar-se à minha frente. O divórcio não era apenas dele e da Sofia; era de todos nós. A casa onde cresceram, o carro que compraram juntos, tudo estava agora em disputa. Mas o que mais me doía era saber que os meus netos, a Matilde e o Diogo, estavam no meio deste furacão.

— Tiago, tens de manter a calma — tentei apaziguar, mas ele interrompeu-me.

— Calma? A mãe viu o que ela escreveu? Quer ficar com a casa dos avós e ainda exige o carro! E agora diz que eu não sou um bom pai…

As palavras dele ecoaram no silêncio da noite. O Paulo, meu marido, entrou na cozinha com um ar cansado.

— Isto vai passar, filho. Só tens de ser justo — disse ele, mas eu sabia que ele próprio não acreditava muito nisso.

Na manhã seguinte, fui à casa da Sofia para tentar falar com ela. Queria pedir-lhe que pensasse nos netos, que não os afastasse do pai nem de nós. Toquei à campainha com as mãos suadas. A porta abriu-se apenas uma fresta.

— Dona Helena? — disse ela fria, sem sequer me olhar nos olhos.

— Sofia, por favor… podemos conversar? Não quero meter-me nos vossos assuntos, mas…

Ela interrompeu-me:

— Não quero falar consigo. A senhora sempre ficou do lado do Tiago. Agora aguente as consequências.

A porta fechou-se na minha cara. Senti-me humilhada e impotente. No caminho para casa, as lágrimas caíam-me pelo rosto. Como é que chegámos aqui? Eu só queria proteger o meu filho e os meus netos.

Os dias seguintes foram um tormento. O Tiago ia a tribunal com advogados caros que mal podíamos pagar. A Sofia recusava qualquer acordo amigável. As crianças começaram a mudar: a Matilde deixou de sorrir quando vinha cá a casa; o Diogo chorava sempre que tinha de voltar para a mãe.

Uma tarde, depois de mais uma audiência frustrada, sentei-me com o Paulo na varanda.

— Achas que fizemos mal em apoiar tanto o Tiago? — perguntei-lhe em voz baixa.

Ele suspirou.

— Fizemos o que qualquer pai faria. Mas isto está a destruir-nos a todos.

Nessa noite sonhei com os meus netos pequenos, a correrem pelo jardim da nossa casa antiga. Acordei com o peito apertado de saudades.

O tempo passou e as coisas só pioraram. Um dia, recebi uma carta registada: Sofia proibia qualquer contacto meu com as crianças até nova ordem judicial. O Tiago estava devastado; eu sentia-me morta por dentro.

Começaram as discussões cá em casa. O Paulo achava que devíamos tentar falar com a Sofia outra vez; eu dizia que era inútil. O Tiago culpava-se por tudo e afastou-se ainda mais.

— Mãe, se calhar devia ter deixado ela ficar com tudo… pelo menos assim não perdia os miúdos — disse-me ele um dia, com os olhos vermelhos de tanto chorar.

— Não digas isso! Lutaste pelo que é teu e pelos teus filhos! — respondi-lhe, mas no fundo também duvidava se tínhamos feito o certo.

As festas passaram sem os netos. O Natal foi um silêncio doloroso à mesa. A Matilde mandou-me um desenho escondido num envelope: era ela e o Diogo de mãos dadas comigo e com o avô. Chorei como nunca tinha chorado antes.

Os vizinhos começaram a comentar. Uns diziam que a Sofia tinha razão; outros achavam que ela estava a ser cruel. Eu evitava sair à rua para não ouvir murmúrios nem perguntas indiscretas.

Uma tarde, encontrei a minha irmã Maria no café da vila.

— Helena, tens de lutar pelos teus netos! Vai ao tribunal, faz barulho! — insistiu ela.

Mas eu já não tinha forças. Sentia-me velha e cansada desta guerra sem fim.

O Tiago mudou-se para um apartamento pequeno; perdeu parte do salário para pagar pensão de alimentos. O Paulo adoeceu do coração — dizem que é stress, mas eu sei que é tristeza acumulada.

Um dia, recebi uma chamada anónima. Era a Matilde:

— Avó… tenho saudades tuas…

A voz dela era baixinha, cheia de medo de ser apanhada pela mãe. Prometi-lhe que nunca deixaria de lutar por ela e pelo Diogo.

Naquela noite escrevi uma carta à Sofia:

“Sofia,
Sei que está magoada e zangada comigo e com o Tiago. Mas peço-lhe como mãe e como avó: não prive as crianças do amor dos avós. Eles precisam de todos nós para crescerem felizes. Não quero guerra; só quero paz para os meus netos.
Helena”

Nunca obtive resposta.

Hoje passo os dias à janela, esperando ver os meus netos passarem na rua para lhes acenar de longe. O Paulo já quase não fala; o Tiago trabalha até tarde para não pensar na solidão.

Pergunto-me todos os dias: valeu a pena lutar tanto? Ou devia ter engolido o orgulho e cedido só para manter a família unida?

E vocês? Até onde iriam para proteger um filho? Quantos sacrifícios são justificados quando está em jogo o amor dos nossos netos?