Cinco Anos Atrás, os Meus Sogros Pediram-me uma Quantia Enorme: Agora o Meu Marido Quer Perdoar a Dívida, Mas a Minha Mãe Diz Que Devemos Cobrar

— Não podes simplesmente esquecer o que eles nos devem, Miguel! — A minha voz treme, mas não consigo conter a indignação. O cheiro do café acabado de fazer mistura-se com a tensão que paira na cozinha. Miguel, sentado à mesa, olha para mim com aquele ar calmo que sempre me irritou quando estou à beira de um ataque de nervos.

— São os meus pais, Sofia. E já passaram cinco anos. Achas mesmo que ainda faz sentido cobrar-lhes? — Ele fala baixo, quase num sussurro, como se tivesse medo que os vizinhos ouvissem.

A minha mãe, Maria do Carmo, está sentada ao meu lado, com as mãos apertadas no colo. Sei que ela só veio cá hoje para garantir que eu não cedia. — Não é uma questão de sentido, Miguel. É uma questão de justiça. A Sofia e tu trabalharam muito para juntar aquele dinheiro. Não foi para ficar esquecido — diz ela, com aquela voz firme que sempre me fez sentir pequena.

Fecho os olhos por um instante e volto cinco anos atrás. Estava de licença de maternidade, com a Leonor recém-nascida ao colo, quando o António e a Lurdes nos ligaram. A casa de férias deles em Sesimbra estava a cair aos bocados, infiltrações por todo o lado, e não tinham como pagar as obras. O Miguel ficou logo aflito. — Se não ajudarmos agora, eles perdem tudo — disse-me ele naquela noite, enquanto embalava a Leonor.

Eu hesitei. O dinheiro era das nossas poupanças, do fundo de emergência que tínhamos construído com tanto sacrifício. Mas acabei por ceder. — Eles vão devolver, Sofia. A minha mãe nunca ficaria em dívida connosco — prometeu-me o Miguel.

Agora, cinco anos depois, nem uma palavra sobre o dinheiro. Nem um jantar, nem um telefonema a agradecer. Só silêncio. E cada vez que vejo a Lurdes a publicar fotos da casa renovada no Facebook, com os netos a brincar no jardim novo, sinto uma pontada no peito.

— Eles nem sequer mencionam a dívida, Miguel. Achas isso normal? — pergunto, tentando controlar as lágrimas.

Ele suspira. — Talvez tenham vergonha. Ou talvez achem que já não faz diferença.

A minha mãe levanta-se de repente, como se não aguentasse mais estar sentada. — Sofia, não deixes que te passem por cima. Se não fores tu a lembrar-lhes, ninguém vai fazer justiça por ti.

O Miguel olha para mim, suplicante. — Não quero criar problemas na família. Já viste como a minha mãe é sensível…

— E eu? Eu não sou sensível? — pergunto, sentindo a voz falhar.

O silêncio instala-se. O relógio da parede marca as horas com um tique-taque irritante. A Leonor entra na cozinha, com o cabelo despenteado e o pijama cor-de-rosa. — Mãe, posso ver desenhos animados?

— Vai, filha — respondo, tentando sorrir.

A minha mãe aproxima-se de mim e pousa a mão no meu ombro. — Pensa bem, Sofia. Não é só dinheiro. É respeito.

Depois que ela sai, fico sozinha com o Miguel. Ele pega na minha mão e aperta-a com força. — Não quero perder os meus pais por causa disto.

— E eu? Vais perder-me a mim se continuares a pôr os teus pais à frente da nossa família?

Ele não responde. Vejo-lhe os olhos marejados de lágrimas e sinto-me dividida entre o amor que tenho por ele e a raiva que me consome.

Naquela noite, não consigo dormir. Fico a olhar para o teto, a pensar em todas as vezes que pus os outros à frente de mim mesma. Lembro-me da infância difícil, da minha mãe a fazer contas à vida para nos dar de comer, do meu pai ausente e das promessas nunca cumpridas.

No dia seguinte, decido ligar à Lurdes. O telefone toca três vezes antes de ela atender.

— Olá, Sofia! Que surpresa boa! — diz ela, com aquela voz doce que sempre me desconcertou.

— Olá, Lurdes. Precisava de falar consigo sobre uma coisa… importante.

Ela fica em silêncio por uns segundos. — Diz, querida.

— É sobre o dinheiro que vos emprestámos há cinco anos para as obras da casa de Sesimbra…

Ouço-a inspirar fundo do outro lado da linha.

— Ah… isso… Sofia, eu e o António temos falado sobre isso. Sabemos que vos devemos esse dinheiro, mas as coisas não têm estado fáceis…

— Eu compreendo, Lurdes. Mas também não têm estado fáceis para nós. E nunca falaram connosco sobre isto desde então.

Ela suspira. — Tens razão. Devíamos ter dito alguma coisa. Mas sabes como é… custa-nos pedir desculpa.

— Não é uma questão de desculpas. É uma questão de respeito — digo, sentindo-me mais forte do que nunca.

Ela promete que vão tentar devolver pelo menos uma parte nos próximos meses. Desligo o telefone com uma sensação agridoce: alívio por finalmente ter falado, mas tristeza por ter sido preciso chegar a este ponto.

Quando conto ao Miguel o que se passou, ele abraça-me em silêncio. Pela primeira vez em muito tempo, sinto que estamos do mesmo lado.

Mas a tensão na família não desaparece. A Lurdes começa a evitar-me nos almoços de domingo, o António mal me cumprimenta. A Leonor pergunta porque é que os avós já não lhe trazem bolos como antes.

A minha mãe sente-se vingada, mas eu sinto-me mais sozinha do que nunca.

Uma noite, depois de deitar a Leonor, sento-me à janela a olhar para as luzes da cidade. Pergunto-me se valeu a pena lutar por justiça quando o preço foi a paz da família.

Será que fiz bem? Ou será que há dívidas que nunca se pagam realmente? E vocês, o que fariam no meu lugar?