As Mensagens Ocultas: O Segredo Que Mudou a Minha Vida
— Não consigo dormir, Marta. — sussurrei para mim mesmo, olhando para o teto do quarto, enquanto o relógio marcava três da manhã. O silêncio era cortado apenas pelo som distante das ondas, lembrando-me de que estávamos na casa de praia dos meus sogros, em Vila Nova de Milfontes. O calor abafado e uma dor de cabeça insistente não me deixavam descansar. Ao meu lado, a Ana dormia profundamente, respirando devagar, como se nada pudesse perturbar o seu sono.
Levantei-me devagar, tentando não acordá-la. Fui até à cozinha à procura de um comprimido para a dor. A luz do frigorífico iluminou o espaço e, sobre o balcão, vi o telemóvel da Ana. Era estranho vê-lo ali, já que ela nunca o largava. Senti um aperto no peito. Tentei afastar pensamentos negativos — “Estás a ser paranoico, Miguel”, disse para mim mesmo. Mas aquela sensação de inquietação não me largava.
Agarrei no telemóvel, hesitante. Sabia que não devia, mas algo mais forte do que eu guiou os meus dedos até ao ecrã. O código era o mesmo de sempre: a data do nosso aniversário. Desbloqueei-o e abri as mensagens. O coração batia-me tão forte que temi acordar toda a casa.
Foi então que vi: conversas com um número guardado como “Pedro Escritório”. As mensagens eram recentes, trocadas durante aquela tarde em que estávamos todos juntos na praia. “Sinto tanto a tua falta”, lia-se numa delas. “Mal posso esperar para te ver outra vez.” Senti o chão fugir-me dos pés.
— Miguel? — ouvi a voz da Ana atrás de mim, rouca de sono.
Virei-me devagar, com o telemóvel ainda na mão. Ela olhou para mim, primeiro confusa, depois assustada ao perceber o que eu tinha nas mãos.
— O que estás a fazer? — perguntou, tentando manter a voz firme.
— Isto é verdade? — perguntei, mostrando-lhe o ecrã.
O silêncio entre nós era ensurdecedor. Ela desviou o olhar, as lágrimas começaram a correr-lhe pelo rosto.
— Eu… desculpa, Miguel. Eu não queria magoar-te.
Senti uma raiva surda misturada com uma tristeza profunda. Tudo aquilo que tínhamos construído — os nossos filhos, os jantares em família, as férias em Tavira — parecia desmoronar-se num instante.
— Há quanto tempo? — perguntei, quase sem voz.
Ela hesitou antes de responder:
— Há uns meses… começou como uma amizade no trabalho. Eu sentia-me sozinha, tu estavas sempre tão distante…
As palavras dela eram facas afiadas. Lembrei-me das noites em que ficava até tarde no escritório para garantir um futuro melhor para nós. Lembrei-me das vezes em que ela me dizia que estava cansada, mas eu achava que era só o stress do dia-a-dia.
— E os nossos filhos? Já pensaste neles? — perguntei, sentindo as lágrimas a quererem sair.
Ela abanou a cabeça, incapaz de responder. Saí da cozinha sem olhar para trás e fui até à varanda. O ar fresco da madrugada bateu-me na cara como um murro. Sentei-me e chorei como há muito não chorava.
Na manhã seguinte, tentei agir normalmente por causa dos miúdos. O Tomás e a Leonor corriam pela areia, rindo-se como se nada tivesse acontecido. Ana evitava olhar-me nos olhos. Os amigos notaram o clima estranho, mas ninguém disse nada.
À noite, depois de deitarmos as crianças, sentei-me com ela na sala.
— Não consigo continuar assim — disse-lhe. — Preciso de tempo para pensar.
Ela assentiu em silêncio. Nos dias seguintes, mal trocámos palavras. Quando voltámos a Lisboa, decidi procurar um advogado. Nunca pensei que fosse capaz de tomar uma decisão destas, mas sabia que não podia viver numa mentira.
Os meus pais ficaram devastados quando lhes contei. A minha mãe chorou ao telefone:
— Miguel, tens a certeza? Não queres tentar resolver?
— Mãe, eu tentei tudo. Mas não consigo perdoar.
O processo de divórcio foi doloroso e lento. Cada reunião com os advogados era um murro no estômago. Discutíamos sobre quem ficava com a casa, sobre as visitas às crianças, sobre contas bancárias e memórias partilhadas.
A Ana tentou pedir desculpa várias vezes. Disse-me que ainda me amava, que tinha sido um erro terrível. Mas eu já não conseguia olhar para ela sem ver as mensagens daquele homem.
Os meus amigos dividiram-se: alguns achavam que eu devia perdoar; outros diziam que fiz bem em seguir em frente. Eu sentia-me sozinho como nunca antes.
Houve noites em que me perguntei se tinha feito a escolha certa. Lembrei-me dos sorrisos dos meus filhos quando estávamos todos juntos à mesa; das histórias antes de dormir; dos natais em família na casa dos meus pais em Braga.
Mas depois lembrava-me da dor daquela traição e sabia que não podia voltar atrás.
Hoje vivo sozinho num apartamento pequeno perto do trabalho. Vejo os meus filhos aos fins-de-semana e tento ser o melhor pai possível. A Ana seguiu com a vida dela; dizem que já não está com o Pedro do escritório.
Às vezes dou por mim a olhar para fotografias antigas e a perguntar: onde é que tudo começou a correr mal? Será que podia ter feito algo diferente? Ou será que há dores que nunca se curam?
E vocês? Já sentiram que uma escolha vos mudou para sempre? Será possível reconstruir-nos depois de perdermos tudo aquilo em que acreditávamos?