A Verdade Escondida: As Noites em Claro do Meu Namorado com a Amiga de Infância

— Vais outra vez dormir em casa da Mariana? — perguntei, tentando esconder o tremor na minha voz enquanto Diogo enfiava uma t-shirt na mochila.

Ele parou, olhou-me com aquele ar de quem não percebe o problema. — Sim, Inês. Já sabes que ela está a passar uma fase difícil. O pai dela voltou a beber e ela não gosta de ficar sozinha à noite.

O silêncio caiu pesado entre nós. Oiço o tic-tac do relógio da cozinha, cada segundo a martelar a minha cabeça. Três anos de namoro e, de repente, sinto-me uma estranha na minha própria relação. Mariana sempre fez parte da vida do Diogo, desde os tempos em que brincavam no parque do bairro. Sempre achei bonito terem mantido a amizade, mas ultimamente, as noites passadas juntos começaram a parecer-me menos inocentes.

Lembro-me da primeira vez que questionei isto à minha mãe. — Achas normal ele dormir tantas vezes em casa dela? — Ela encolheu os ombros, mas vi nos olhos dela a mesma dúvida que me consumia.

Naquela noite, fiquei acordada até tarde, a olhar para o teto do meu quarto. O cheiro dele ainda pairava nos lençóis. Tentei convencer-me de que era só amizade, mas as dúvidas começaram a corroer-me por dentro. No dia seguinte, decidi falar com a irmã dele, a Sofia. Ela sempre foi direta.

— Inês, eu conheço o meu irmão. Ele nunca te faria mal. Mas também conheço a Mariana… ela sempre teve um fraquinho por ele, mesmo quando namorava com aquele rapaz da escola — disse ela, baixando a voz.

As palavras dela ficaram a ecoar na minha cabeça. Comecei a reparar em pequenos detalhes: as mensagens trocadas entre eles, os risos cúmplices quando pensavam que ninguém estava a ver, as desculpas para se encontrarem sozinhos. Senti-me ridícula por desconfiar, mas não conseguia evitar.

Uma noite, decidi aparecer de surpresa na casa da Mariana. O coração batia-me tão forte que quase não conseguia respirar. Toquei à campainha e ela abriu a porta com um sorriso forçado.

— Inês? O que fazes aqui?

— Vim buscar o Diogo — respondi, tentando soar casual.

Ela hesitou antes de me deixar entrar. A casa estava mergulhada numa penumbra estranha. Ouvi vozes vindas do quarto dela e reconheci o riso do Diogo. Quando entrei, vi-os sentados na cama, demasiado próximos para meu gosto. Ele levantou-se num salto.

— O que estás aqui a fazer? — perguntou ele, surpreendido.

— Podia perguntar-te o mesmo — respondi, sentindo as lágrimas ameaçarem cair.

Mariana levantou-se também, cruzando os braços. — Não há nada entre nós, Inês. O Diogo só está aqui porque eu preciso de apoio.

Olhei para eles e percebi que havia algo mais ali, algo que não queriam admitir nem para eles próprios. Saí dali sem dizer mais nada. Passei a noite a andar pelas ruas do bairro, sentindo-me perdida.

Nos dias seguintes, Diogo tentou falar comigo várias vezes. Ignorava as chamadas e as mensagens. Até que um dia apareceu à porta de minha casa.

— Inês, por favor… precisamos de conversar — disse ele, com os olhos vermelhos de tanto chorar.

Deixei-o entrar e sentámo-nos à mesa da cozinha onde tantas vezes partilhámos risos e sonhos para o futuro.

— Eu amo-te — começou ele. — Mas sinto-me responsável pela Mariana. Ela sempre foi como uma irmã para mim…

— Como uma irmã? Dormes na cama dela! — atirei-lhe à cara, incapaz de controlar a raiva.

Ele baixou os olhos. — Nunca aconteceu nada entre nós. Mas admito que ultimamente tenho estado confuso… Ela faz-me sentir importante, necessário…

As palavras dele foram como facas no meu peito. Senti-me traída não só por ele, mas também por mim mesma por ter ignorado tantos sinais.

A minha mãe entrou na cozinha nesse momento e ficou parada à porta, olhando-nos em silêncio. — Filha, às vezes amar alguém não é suficiente se não há confiança — disse ela suavemente.

Depois daquela conversa, afastei-me do Diogo durante semanas. Tentei concentrar-me no trabalho e nos amigos, mas tudo me fazia lembrar dele. Recebi uma mensagem da Mariana um dia: “Preciso de falar contigo”.

Encontrei-a num café perto da faculdade. Ela parecia mais frágil do que nunca.

— Inês… eu nunca quis magoar-te — começou ela, com lágrimas nos olhos. — O Diogo é tudo para mim desde sempre. Mas ele ama-te a ti… Eu só queria sentir-me menos sozinha.

Fiquei ali sentada sem saber o que dizer. Pela primeira vez vi nela não uma rival, mas uma rapariga tão perdida quanto eu.

O tempo passou e as feridas começaram a sarar devagarinho. Diogo tentou reconquistar-me várias vezes, mas eu já não era a mesma pessoa ingénua de antes. Aprendi a valorizar-me e a perceber que mereço alguém que escolha estar comigo sem hesitações.

Hoje olho para trás e pergunto-me: quantas vezes ignoramos os sinais porque temos medo da verdade? Será que é possível perdoar quando a confiança se quebra assim? Gostava de saber o que fariam no meu lugar.