A Minha Melhor Amiga Casou com o Meu Ex-Marido e Virou-me as Costas Quando Mais Precisei
— Não podes estar a falar a sério, Joana! — gritei, sentindo o chão fugir-me dos pés. O eco da minha voz ressoou na sala vazia do café onde costumávamos partilhar segredos e sonhos. Ela olhou-me, olhos baixos, mãos trémulas a mexer na chávena de café frio.
— Inês, eu… não planeei isto. Aconteceu. — A voz dela era um sussurro, mas cada palavra era um murro no estômago.
O Miguel, o meu ex-marido, o pai do meu filho, estava agora com a minha melhor amiga. Não era só uma traição amorosa; era como se me tivessem arrancado metade da vida. Cresci em Lisboa, filha única de pais divorciados. Sempre procurei estabilidade, e foi com a Joana que encontrei uma espécie de família. Conhecemo-nos no liceu Dona Leonor, duas miúdas tímidas que se tornaram inseparáveis. Partilhámos tudo: os primeiros amores, as primeiras desilusões, os sonhos de sair do bairro e conquistar o mundo.
Quando conheci o Miguel na faculdade, foi a Joana quem me incentivou a dar-lhe uma oportunidade. Ela dizia sempre: “Inês, tu mereces ser feliz.” E fui, durante algum tempo. Casámos cedo demais, talvez por medo de ficar sozinha. O Miguel era carismático, mas tinha um lado sombrio — impaciente, controlador. O nascimento do nosso filho, o Benjamim, trouxe alguma luz à relação, mas também mais discussões. A Joana esteve lá em cada crise, cada lágrima, cada noite em que dormi no sofá para evitar mais uma discussão.
O divórcio foi inevitável. O Miguel saiu de casa sem olhar para trás. A Joana ficou ao meu lado — ou assim pensei. Durante meses, ela ajudou-me com o Benjamim, levou-o à escola quando eu estava a trabalhar no hospital de Santa Maria, ouviu-me desabafar sobre as contas por pagar e os medos de mãe solteira.
Foi por isso que aquela conversa no café me apanhou completamente desprevenida. “Aconteceu”, disse ela. Mas como é que acontece uma coisa destas? Como é que duas pessoas que deviam proteger-me acabam por me trair da forma mais cruel?
Nos dias seguintes, tentei manter-me forte por causa do Benjamim. Ele tinha 15 anos e já percebia demasiado sobre as falhas dos adultos. Uma noite, ouvi-o ao telefone com um amigo:
— O meu pai agora está sempre com a tia Joana… Não percebo nada disto.
Senti-me esmagada pela culpa e pela impotência. Como é que explico ao meu filho que a mulher que ele sempre viu como uma tia agora faz parte da nova família do pai?
A Joana tentou justificar-se algumas vezes:
— Inês, eu nunca quis magoar-te. Mas apaixonei-me pelo Miguel… Não consegui evitar.
— E eu? — perguntei-lhe uma noite ao telefone, a voz embargada pelas lágrimas. — Pensaste em mim? Pensaste no Benjamim?
Ela ficou em silêncio. E esse silêncio doeu mais do que qualquer palavra.
Os meses passaram e fui-me afastando dela. No início ainda tentei manter alguma cordialidade por causa do Benjamim, mas cada encontro era um murro no estômago. O Miguel parecia feliz — finalmente tinha alguém que lhe fazia todas as vontades. A Joana mudou-se para a casa onde eu vivi durante anos; redecorou tudo, apagando qualquer vestígio da minha presença.
A solidão tornou-se insuportável. Os meus pais estavam longe — o meu pai reformado no Algarve, a minha mãe a viver com o novo companheiro em Braga. Os colegas do hospital eram simpáticos mas distantes; ninguém queria envolver-se nos dramas dos outros.
Foi então que a minha saúde começou a fraquejar. Um dia desmaiei no turno da noite. Diagnóstico: anemia severa e esgotamento nervoso. Precisei de alguém para ficar com o Benjamim durante uns dias enquanto recuperava. Liguei à Joana — afinal, ela era quase família.
— Desculpa, Inês… Não posso ajudar agora. Tenho imenso trabalho e o Miguel também está ocupado — respondeu ela friamente.
Senti o mundo desabar outra vez. A mulher que me prometeu amizade eterna virou-me as costas quando mais precisei dela.
Acabei por pedir ajuda à vizinha do lado, dona Rosa, uma senhora reformada que mal conhecia mas que me acolheu como uma filha. Foi ela quem fez sopa para mim e levou o Benjamim à escola durante aquela semana negra.
O Benjamim percebeu tudo antes de mim:
— Mãe, a tia Joana já não é nossa amiga? — perguntou-me uma noite enquanto eu lhe fazia festinhas no cabelo.
— Não sei, filho… Acho que as pessoas mudam — respondi-lhe com um nó na garganta.
A partir daí comecei a reconstruir-me aos poucos. Procurei terapia, voltei a sair sozinha para passear junto ao Tejo ao fim da tarde, reencontrei colegas antigos do liceu nas redes sociais. Descobri que havia vida para além da dor e da traição.
O Miguel e a Joana casaram-se numa cerimónia discreta em Sintra — soube pelas redes sociais porque ninguém me convidou nem ao Benjamim. Ele ficou magoado:
— Nem sequer quiseram que eu estivesse lá…
Abracei-o com força e prometi-lhe que nunca lhe faltaria amor.
Hoje olho para trás e vejo como fui ingénua ao acreditar que certas amizades são eternas. A Joana foi importante na minha vida, mas escolheu outro caminho — um caminho onde eu não cabia mais.
Às vezes pergunto-me: será possível perdoar uma traição destas? Ou será que há feridas que nunca cicatrizam? E vocês… já sentiram algo assim? Como se volta a confiar depois de perder tudo?