A Mentira Que Mudou a Minha Família: Quando a Minha Cunhada Fingiu uma Gravidez
— Mariana, não podes continuar assim! — gritei, com a voz embargada pela frustração, enquanto ela se encolhia no sofá da sala da minha sogra. O relógio marcava quase meia-noite, mas ninguém conseguia dormir naquela casa. O silêncio pesado era cortado apenas pelo som do meu coração acelerado e pelo choro contido da Dona Teresa.
Nunca pensei que a minha vida se transformasse num autêntico drama de novela portuguesa. O Rui, o meu marido, sempre foi o pilar da família. Trabalhador, honesto, daqueles que não sabe dizer não à irmã mais nova. Eu própria sempre admirei a ligação deles, até ao dia em que tudo começou a desmoronar.
Foi há três meses. Mariana apareceu à porta da nossa casa com uma mala na mão e os olhos vermelhos de tanto chorar. — Preciso de falar convosco — disse, a voz trémula. Sentámo-nos todos à mesa da cozinha, onde tantas vezes partilhámos risos e histórias. Mas naquela noite, o ambiente era diferente.
— Estou grávida — anunciou Mariana, olhando para o chão. O Rui ficou em choque, eu senti um aperto no peito e Dona Teresa levou as mãos à boca, num misto de surpresa e alegria. — O pai não quer saber — continuou ela, com lágrimas nos olhos. — E o senhorio quer despejar-me porque estou atrasada nas rendas.
O Rui levantou-se de imediato e abraçou-a. — Vais ficar connosco o tempo que precisares. Não te preocupes com nada.
E assim começou o nosso calvário. Mariana instalou-se no nosso pequeno apartamento em Almada. Eu trabalhava como administrativa numa clínica dentária e o Rui era motorista de autocarros. O dinheiro nunca sobrava, mas dávamos sempre um jeito para ajudar quem precisava.
No início, Mariana parecia grata. Passava os dias no sofá, dizia que estava enjoada e cansada. Eu compreendia — afinal, uma gravidez não é fácil. Mas as semanas foram passando e comecei a notar coisas estranhas. Mariana nunca ia ao médico, recusava-se a mostrar exames ou ecografias. Quando lhe perguntava sobre consultas, ela desconversava ou dizia que estava tudo bem.
Uma noite, enquanto lavava a loiça, ouvi o Rui perguntar:
— Mariana, já tens consulta marcada para ver como está o bebé?
Ela respondeu sem hesitar:
— Sim, mas só para daqui a duas semanas. O centro de saúde está cheio.
Fiquei desconfiada. Falei com Dona Teresa ao telefone:
— Acha normal ela nunca mostrar nada? Nem um papel do centro de saúde?
Dona Teresa suspirou:
— Filha, cada pessoa vive a gravidez à sua maneira… Mas também acho estranho.
A situação agravou-se quando Mariana começou a pedir dinheiro para “vitaminas” e “roupa de grávida”. O Rui dava-lhe tudo sem questionar. Eu sentia-me cada vez mais desconfortável, mas não queria ser injusta.
Até que um dia, ao regressar mais cedo do trabalho, encontrei Mariana na rua com uma amiga, a rir-se às gargalhadas e a fumar um cigarro. Fiquei gelada. Esperei que ela voltasse para casa e confrontei-a:
— Mariana, estás grávida e andas a fumar?
Ela ficou pálida:
— Foi só um cigarro… Estava nervosa.
Contei tudo ao Rui nessa noite. Ele ficou dividido entre acreditar na irmã ou em mim. A tensão entre nós aumentou. Começámos a discutir por pequenas coisas. Senti que estava a perder o meu marido para uma mentira.
As semanas passaram e Mariana continuava sem barriga visível. Um dia, Dona Teresa veio visitar-nos e ficou chocada ao ver como Mariana estava igual desde que chegou.
— Mariana, tu não tens barriga nenhuma! — exclamou Dona Teresa.
Mariana chorou compulsivamente:
— É normal! Nem todas as mulheres crescem muito!
Foi então que decidi agir. Liguei para o centro de saúde onde Mariana dizia ter consultas. Fingi ser ela e pedi informações sobre as consultas pré-natais. Do outro lado da linha disseram-me:
— Não temos nenhuma utente com esse nome inscrita nas consultas de obstetrícia.
O chão fugiu-me dos pés. Confrontei Mariana na presença do Rui e da Dona Teresa.
— Chega de mentiras! Não estás grávida coisa nenhuma!
Ela negou até ao fim, mas quando viu que não havia saída, desabou:
— Desculpem… Eu só queria tempo para me organizar… Não queria ser despejada nem perder o emprego…
O Rui ficou devastado. Chorou como nunca o vi chorar. Dona Teresa abraçou-o e eu senti uma mistura de raiva e pena pela Mariana.
A partir desse dia, tudo mudou entre nós. O Rui afastou-se da irmã durante meses. Eu tentei perdoá-la, mas a confiança nunca mais foi a mesma. Mariana acabou por arranjar trabalho numa pastelaria e alugou um quarto numa casa partilhada em Setúbal.
Hoje olho para trás e pergunto-me: até onde estamos dispostos a ir para ajudar quem amamos? E quando é que o amor se transforma em cegueira? Será possível reconstruir uma família depois de uma mentira destas?
E vocês? Já passaram por algo assim? Como reagiriam se descobrissem uma mentira deste tamanho dentro da vossa família?