A Busca Elusiva pela Perfeição: O Que os Homens Pensam que Querem em uma Mulher
“Eu não entendo, Miguel! O que você realmente quer?” A voz de Sofia ecoava pela sala, carregada de frustração e uma pitada de desespero. Eu me sentia encurralado, como se estivesse em um tribunal prestes a ser julgado por crimes que nem sabia ter cometido.
“Eu… eu não sei, Sofia. Eu só sinto que algo está faltando,” respondi, tentando encontrar as palavras certas para expressar o vazio que me consumia.
Sofia suspirou profundamente, seus olhos brilhando com lágrimas não derramadas. “Você sempre diz isso. Mas o que é esse ‘algo’? Eu faço tudo por você, Miguel. Eu sou a mulher que você disse querer!”
E ela era. Sofia era linda, inteligente, carinhosa e tinha um sorriso que poderia iluminar a mais escura das noites. Mas havia uma inquietação dentro de mim, uma insatisfação que eu não conseguia nomear.
Nos dias seguintes, as palavras de Sofia ecoavam na minha mente. O que eu realmente queria? Cresci ouvindo meu pai dizer que um homem deve buscar uma mulher perfeita, alguém que fosse bela, dedicada e submissa. Mas será que era isso mesmo que eu desejava?
Lembrei-me de uma conversa com meu amigo João, um homem que sempre parecia ter tudo sob controle. “Miguel, você precisa de alguém que te desafie, não alguém que apenas concorde com tudo,” ele me disse certa vez enquanto bebíamos cerveja em um bar no centro de Lisboa.
“Mas João, não é isso que todos querem? Alguém que nos faça sentir completos?” perguntei, confuso.
João riu, um riso profundo e cheio de sabedoria. “Completo? Meu amigo, ninguém pode te completar além de você mesmo. O amor é sobre encontrar alguém com quem você possa crescer, não alguém para preencher suas lacunas.”
Essas palavras ficaram comigo enquanto eu tentava entender meus próprios sentimentos. Sofia era perfeita aos olhos dos outros, mas talvez não fosse a parceira que me faria crescer.
Uma noite, enquanto caminhava pelas ruas estreitas de Alfama, encontrei-me perdido em pensamentos. As luzes amarelas dos lampiões lançavam sombras longas nas pedras da calçada, e o som distante de um fado melancólico preenchia o ar.
Foi então que vi Ana pela primeira vez. Ela estava sentada em um café pequeno, lendo um livro com uma expressão de profunda concentração. Algo nela me chamou a atenção; talvez fosse a maneira como ela franzia a testa ao virar as páginas ou a forma como seus olhos brilhavam sob a luz suave do café.
Sem pensar muito, entrei no café e pedi um café expresso. Sentei-me na mesa ao lado dela e tentei parecer casual enquanto observava seu rosto iluminado pelo abajur.
“Desculpe-me,” comecei hesitante, “mas não pude deixar de notar o livro que está lendo. É um dos meus favoritos.” Era uma mentira descarada; eu nunca tinha lido aquele livro na vida.
Ana levantou os olhos do livro e me olhou com curiosidade. “É mesmo? Então você deve gostar de histórias complexas e personagens bem desenvolvidos,” respondeu ela com um sorriso enigmático.
Conversamos por horas naquela noite. Ana era diferente de qualquer pessoa que eu já havia conhecido. Ela era espirituosa, desafiadora e tinha uma visão do mundo que me fazia questionar tudo o que eu pensava saber sobre mim mesmo.
Com o tempo, comecei a perceber que talvez o problema não fosse Sofia ou qualquer outra mulher com quem eu tivesse me envolvido. O problema era eu e minhas expectativas irreais sobre o amor e o que significava encontrar alguém perfeito.
Ana e eu nos tornamos amigos rapidamente, mas havia algo mais crescendo entre nós. Algo que me fazia sentir vivo de uma maneira que eu nunca havia experimentado antes.
Um dia, enquanto caminhávamos pelo Parque das Nações, Ana parou de repente e olhou para mim com seriedade. “Miguel, você já se perguntou por que está sempre procurando por algo mais?”
Fiquei surpreso com a pergunta direta. “Acho que sim,” respondi lentamente. “Acho que sempre achei que precisava encontrar alguém perfeito para ser feliz.”
Ana sorriu suavemente e tocou meu braço. “A perfeição é uma ilusão, Miguel. O amor verdadeiro é aceitar as imperfeições e ainda assim escolher estar ao lado daquela pessoa todos os dias.”
Suas palavras ressoaram profundamente dentro de mim. Talvez fosse isso que eu precisava ouvir para finalmente entender o verdadeiro significado do amor.
Com Ana ao meu lado, comecei a ver a vida sob uma nova perspectiva. Percebi que o amor não era sobre encontrar alguém perfeito, mas sim sobre encontrar alguém com quem eu pudesse ser imperfeito.
Sofia e eu nos separamos amigavelmente pouco depois disso. Foi doloroso, mas necessário para ambos seguirmos em frente e encontrarmos nossas próprias felicidades.
Hoje, enquanto escrevo estas palavras, estou ao lado de Ana, vivendo um amor imperfeito mas verdadeiro. E me pergunto: quantos de nós ainda estão presos na busca por algo inalcançável quando a verdadeira felicidade pode estar bem diante dos nossos olhos?