A Minha Sogra Fez de Tudo Para Me Separar da Minha Filha — Mas Acabou Por Perder o Próprio Filho
— Mariana, levanta-te já! — O grito da minha sogra ecoou pelo corredor gelado da casa. Eram cinco da manhã. Eu ainda estava meio adormecida, mas o som da voz dela fez-me saltar da cama. O meu coração batia descompassado, como se pressentisse que aquele dia não seria igual aos outros.
A minha filha, com apenas dez anos, esfregava os olhos enquanto descia as escadas. A minha sogra, Dona Amélia, estava de braços cruzados à porta da cozinha, com aquele olhar de quem nunca está satisfeita. — Não te ensinam nada em casa? Uma menina da tua idade já devia saber pôr a mesa e preparar o pequeno-almoço para a família — disse ela, olhando para mim como se eu fosse a culpada de tudo.
— Mãe, deixe a Mariana dormir mais um pouco — pedi, tentando manter a voz calma. Mas Dona Amélia ignorou-me e continuou a dar ordens à minha filha.
O meu marido, Rui, estava ausente naquela semana por causa do trabalho. Eu sentia-me sozinha naquela casa enorme, onde cada canto parecia ecoar as críticas e exigências da minha sogra. Desde que nos mudámos para a casa dela, depois de Rui perder o emprego, tudo mudou. A promessa de apoio transformou-se numa prisão.
Mariana era uma criança doce e sensível. Sempre gostou de ajudar, mas agora parecia carregar o peso do mundo nos ombros. Começou a ter pesadelos, a acordar a meio da noite a chorar baixinho. Eu tentava protegê-la, mas Dona Amélia era incansável: criticava tudo — desde a forma como vestia a neta até ao modo como eu cozinhava.
Uma noite, ouvi Mariana sussurrar:
— Mãe, porque é que a avó não gosta de mim?
O meu coração partiu-se em mil pedaços. Abracei-a com força e prometi-lhe que tudo iria melhorar. Mas no fundo eu própria duvidava.
Quando Rui voltou de Lisboa, tentei falar-lhe sobre o que se passava. Ele ouviu-me em silêncio, mas vi nos olhos dele o conflito: era o filho único de Dona Amélia e sentia-se dividido entre nós.
— A mãe sempre foi assim… Mas é só uma fase difícil — disse ele, tentando minimizar.
— Não é só uma fase, Rui! A tua mãe está a destruir-nos — respondi, com lágrimas nos olhos.
Os dias passaram e Dona Amélia intensificou as intrigas. Começou a insinuar que eu era má mãe, que não sabia cuidar da casa nem da família. Um dia, quando cheguei do supermercado, encontrei-a a falar com uma vizinha no portão:
— Esta rapariga não tem mão para nada… Nem para criar uma filha serve — dizia ela em voz alta, sabendo que eu ouvia.
Senti-me humilhada. Quis gritar, mas engoli o orgulho e entrei em casa de cabeça baixa.
As coisas pioraram quando Mariana adoeceu. Uma febre alta deixou-a de cama durante dias. Dona Amélia acusou-me de negligência:
— Se fosses uma mãe atenta isto não acontecia! — atirou ela.
Eu já não aguentava mais. Liguei ao Rui em lágrimas:
— Ou saímos desta casa ou eu enlouqueço!
Ele prometeu falar com a mãe. Nessa noite houve gritos na sala. Mariana tapou os ouvidos e eu abracei-a com força.
No dia seguinte, Dona Amélia estava mais fria do que nunca. Não me dirigiu palavra durante dias. Mas percebi que algo estava prestes a acontecer.
Uma tarde, bateram à porta dois senhores da Segurança Social. Alguém tinha feito uma denúncia anónima sobre maus-tratos à Mariana. Fiquei em choque. Só podia ter sido ela.
Os inspetores fizeram perguntas, observaram tudo. Mariana tremia de medo ao meu lado. Quando saíram, chorei como nunca tinha chorado na vida.
Rui chegou pouco depois e encontrou-me desfeita:
— Isto passou todos os limites! — gritou ele.
Pela primeira vez vi-o enfrentar a mãe com firmeza:
— Mãe, chega! Não admito mais isto! Se continuar assim, vamos embora e nunca mais nos vê!
Dona Amélia chorou e implorou perdão, mas já era tarde demais. Rui percebeu finalmente o mal que ela nos fazia.
Naquela noite fizemos as malas em silêncio. Mariana dormia agarrada ao seu urso de peluche preferido. Quando saímos pela porta da frente ao amanhecer, senti um misto de alívio e tristeza.
Fomos viver para um pequeno apartamento alugado em Almada. Não tínhamos muito dinheiro, mas pela primeira vez em anos sentíamo-nos livres.
Mariana voltou a sorrir aos poucos. As noites sem pesadelos tornaram-se regra e não exceção. Eu arranjei trabalho numa pastelaria e Rui conseguiu um emprego numa oficina.
Dona Amélia tentou ligar várias vezes, mas Rui recusava-se a atender. O silêncio entre mãe e filho tornou-se um abismo impossível de atravessar.
Às vezes pergunto-me se fizemos bem em cortar relações assim tão drasticamente. Mas depois olho para Mariana — para o brilho nos olhos dela — e sei que não havia outra escolha.
Será que algum dia é possível perdoar quem quase destruiu aquilo que mais amamos? Ou há feridas que nunca cicatrizam? Gostava de saber o que fariam no meu lugar.