“O teu marido, querida, traz outra quando não estás” – Uma história de traição que despedaçou a minha família
— O teu marido, querida, traz outra quando não estás. — O sussurro da Dona Amélia, a vizinha do terceiro esquerdo, atravessou a janela aberta como uma faca. Fiquei parada, com as mãos ainda molhadas do detergente, o cheiro a limão a misturar-se com o sabor amargo da suspeita. O coração disparou-me no peito, e por um segundo, desejei não ter ouvido nada.
Mas já era tarde. A frase ecoava-me na cabeça, martelando cada pensamento. O João, o homem com quem partilhei vinte anos de vida, o pai dos meus filhos, seria mesmo capaz de tal coisa? Não queria acreditar, mas a dúvida já se tinha instalado, venenosa e persistente.
Naquela noite, esperei-o acordada. O relógio da sala marcava as duas da manhã quando a porta se abriu devagarinho. Ele entrou de mansinho, como quem não quer acordar ninguém, mas eu estava ali, sentada no escuro, a olhar para ele.
— Onde estiveste? — perguntei, a voz mais firme do que esperava.
Ele hesitou, olhou para o chão, depois para mim. — Fui ao café com o Rui, sabes como é… O tempo passa e nem damos por isso.
Quis acreditar. Quis tanto acreditar. Mas o cheiro a perfume barato, diferente do meu, pairava-lhe na roupa. Senti um nó na garganta, mas engoli as lágrimas. Não naquela noite. Não na frente dele.
Os dias seguintes foram um tormento. Cada gesto dele parecia-me falso, cada sorriso forçado. A minha filha mais nova, a Inês, percebeu logo que algo não estava bem.
— Mãe, estás triste? — perguntou-me ela, com aqueles olhos grandes e sinceros.
Abracei-a com força, tentando esconder o desespero. — Não, filha. Só estou cansada.
Mas a verdade é que estava a desmoronar por dentro. Comecei a reparar em tudo: as mensagens que ele apagava do telemóvel, as chamadas que atendia no corredor, os jantares que inventava à última hora. A minha irmã, a Teresa, foi a primeira a dizer-me para não me calar.
— Vais deixar que ele te faça isto? — perguntou-me ela, indignada. — Tu vales mais do que isso, Maria.
Mas eu não sabia o que fazer. Tinha medo de destruir a família, de magoar os meus filhos. Tinha medo de ficar sozinha, de não saber quem era sem ele.
Uma noite, não aguentei mais. Esperei que ele chegasse e, antes que pudesse inventar outra desculpa, atirei-lhe tudo à cara.
— Sei que tens outra. Não me mintas mais, João.
Ele ficou pálido, os olhos arregalados. — Maria, não é nada disso…
— Não me trates como parva! — gritei, a voz a tremer de raiva e dor. — Achas que não vejo? Achas que não sinto?
Ele tentou abraçar-me, mas afastei-o. — Diz-me a verdade. Só quero a verdade.
Foi então que ele desabou. Confessou tudo: a relação com uma colega do trabalho, os encontros às escondidas, as mentiras. Disse que se sentia perdido, que não sabia o que queria. Pediu-me desculpa, chorou, implorou-me para não acabar com tudo.
Mas naquele momento, percebi que já não era a mesma mulher. A Maria que aceitava tudo calada tinha morrido naquele sussurro da Dona Amélia. Senti uma força nova a crescer dentro de mim, uma vontade de me reencontrar.
Os dias seguintes foram um caos. O João tentou de tudo para me convencer a perdoá-lo. Os meus filhos choravam, a minha mãe ligava-me todos os dias, preocupada. A Teresa ficou comigo, ajudou-me a arrumar as coisas dele, a tomar decisões difíceis.
— Vais conseguir, mana. — disse-me ela, enquanto dobrava as camisas dele numa mala. — És mais forte do que pensas.
A casa parecia vazia sem ele, mas ao mesmo tempo, sentia-me mais leve. Comecei a cuidar de mim, a sair com amigas, a rir outra vez. A Inês e o Miguel, o meu filho mais velho, foram o meu apoio. Houve noites em que chorei até adormecer, mas também houve manhãs em que acordei com esperança.
O João continuou a ligar, a pedir para voltar. Disse que tinha acabado tudo com a outra, que me amava, que não conseguia viver sem mim. Mas eu já não conseguia confiar. A traição tinha deixado uma ferida funda, difícil de sarar.
Um dia, sentei-me com os meus filhos à mesa e expliquei-lhes tudo. Não escondi nada, não menti. Disse-lhes que o pai tinha errado, mas que isso não mudava o amor que sentíamos por eles. Chorámos juntos, abraçámo-nos, prometemos ser sempre uma família, mesmo que diferente.
A vizinhança falou, claro. Em Portugal, toda a gente sabe da vida de toda a gente. Houve quem me criticasse por não perdoar, quem dissesse que devia lutar pelo casamento. Mas também houve quem me admirasse pela coragem.
Aos poucos, fui reconstruindo a minha vida. Arranjei um trabalho novo numa pastelaria, fiz novas amizades, redescobri-me como mulher e como mãe. Houve dias em que duvidei de mim, em que pensei em voltar atrás. Mas depois lembrava-me do sussurro da Dona Amélia, da dor que senti, e seguia em frente.
Hoje, olho para trás e vejo o quanto cresci. A traição do João foi o fim de uma história, mas também o início de outra. Aprendi a valorizar-me, a pôr-me em primeiro lugar. Os meus filhos estão bem, felizes, e isso é tudo o que importa.
Às vezes pergunto-me: quantas mulheres vivem presas ao medo de ficar sozinhas? Quantas aceitam menos do que merecem por amor ou por hábito? Será que alguma vez aprendemos a amar-nos verdadeiramente?
E vocês, o que fariam no meu lugar? Já passaram por algo assim? Gostava de ouvir as vossas histórias.