Fiquei Sozinha com a Minha Nora Grávida Enquanto o Meu Filho Partia em Viagem de Negócios: O Segredo Que Mudou Tudo

— Não me olhes assim, mãe. Eu não tive escolha — disse o Rui, com os olhos baixos, enquanto arrumava à pressa a mala para a viagem de negócios que o patrão lhe tinha imposto à última hora.

O silêncio na sala era pesado. Mariana, a minha nora, sentada no sofá com as mãos pousadas na barriga já saliente, evitava o meu olhar. Eu sentia o coração apertado, uma mistura de preocupação e desconfiança. Desde que eles tinham voltado para casa, depois de perderem o apartamento por não conseguirem pagar a renda, tudo parecia fora do lugar.

— Rui, não é justo deixares a Mariana assim, sozinha… — tentei argumentar, mas ele interrompeu-me.

— Mãe, eu preciso deste trabalho. Se não for agora, não sei quando vou ter outra oportunidade. E tu… tu sempre disseste que família é para estas alturas.

Ele tinha razão. Sempre fui daquelas mães portuguesas que põem os filhos acima de tudo. Mas havia algo naquela pressa, naquele olhar fugidio da Mariana, que me inquietava. Desde que ela engravidou, parecia mais distante. E agora, com o Rui prestes a partir para o Porto durante duas semanas, eu ia ficar sozinha com ela.

Na primeira noite sem o Rui, tentei puxar conversa ao jantar.

— Mariana, tens comido bem? Precisas de alguma coisa especial?

Ela sorriu de forma forçada.

— Está tudo bem, dona Teresa. Não se preocupe comigo.

Mas eu preocupava-me. Sempre me preocupei. E aquela resposta automática só me deixou mais alerta. Nos dias seguintes, reparei em pequenas coisas: telefonemas sussurrados no corredor, mensagens trocadas às escondidas no telemóvel, saídas rápidas ao supermercado sem avisar.

Uma tarde, enquanto arrumava a roupa do Rui no quarto deles, encontrei um envelope escondido entre as camisolas. O meu coração disparou. Dentro estava uma carta com uma letra que reconheci imediatamente: era da Mariana.

“Rui,

Não sei quanto tempo mais consigo fingir. A tua mãe desconfia de tudo. Não era isto que tínhamos combinado. Preciso que voltes logo.”

As mãos tremiam-me. O que é que eles estavam a esconder de mim? Porque é que Mariana falava em fingir? Senti uma raiva surda misturada com medo. Decidi esperar até à noite para confrontá-la.

Quando ela entrou na cozinha para beber água, fechei a porta atrás de mim.

— Mariana, precisamos de conversar.

Ela ficou tensa.

— O que se passa?

— Encontrei uma carta tua para o Rui. Quero saber o que está a acontecer aqui em casa.

Ela ficou pálida e baixou os olhos.

— Não era suposto encontrar isso…

— Mariana! — insisti, já sem paciência — O que é que vocês andam a tramar?

Ela começou a chorar baixinho.

— Eu… eu não queria isto assim. O Rui disse que era só por uns meses. Que íamos conseguir juntar dinheiro e sair daqui logo… Mas depois ele perdeu o emprego e eu também… E agora estamos a viver às suas custas…

Sentei-me à mesa, sentindo-me traída e usada.

— Achas justo esconderem-me as vossas dificuldades? Eu sou vossa mãe! Não sou um banco!

Ela limpou as lágrimas.

— Não foi isso… O Rui tem vergonha. Ele não queria pedir-lhe dinheiro. Por isso inventou essa viagem de negócios… Ele está a trabalhar numa fábrica no Porto para ganhar algum à parte. Não é nenhuma promoção… Ele só não queria que soubesse.

Fiquei sem palavras. O meu filho tinha mentido para mim? Mariana continuou:

— E eu… eu também não estou bem. Tenho medo deste bebé nascer nesta confusão toda. Sinto-me sozinha aqui…

A raiva deu lugar à compaixão. Vi ali uma rapariga perdida, longe da família dela em Viseu, sem amigas na cidade grande, grávida e assustada.

Naquela noite não dormi. Pensei em tudo: nas vezes em que fui dura demais com o Rui por ele não conseguir arranjar emprego “à altura”, nas vezes em que critiquei a Mariana por não ajudar mais em casa… Talvez tivesse sido cega ao sofrimento deles.

No dia seguinte, preparei-lhe um pequeno-almoço especial e sentei-me ao lado dela.

— Mariana, desculpa se fui dura contigo. Sei que não é fácil estar longe dos teus pais… Se quiseres ir passar uns dias com eles até o Rui voltar, eu compreendo.

Ela abanou a cabeça.

— Obrigada, dona Teresa. Mas prefiro ficar aqui consigo. Sinto-me mais segura…

A partir desse dia, começámos a conversar mais. Fui com ela às consultas do centro de saúde, ajudei-a a escolher roupinhas para o bebé no mercado municipal e até lhe ensinei algumas receitas tradicionais da minha mãe — arroz doce e bacalhau à Brás — para ela se sentir mais “em casa”.

Quando o Rui voltou do Porto, magro e cansado mas com um sorriso aliviado por ver as duas mulheres da sua vida bem, sentei-o à mesa e contei-lhe tudo o que sabia.

— Rui, não precisavas de mentir-me. Somos família. Se não nos apoiarmos agora, quando será?

Ele chorou como nunca tinha visto antes.

— Desculpa mãe… Tive medo de te desiludir…

Abracei-o forte.

Os meses passaram e nasceu o pequeno Tomás — saudável e lindo como só um neto pode ser aos olhos de uma avó babada. As dificuldades continuaram: contas para pagar, noites sem dormir, discussões sobre quem ia buscar fraldas ou fazer sopa… Mas agora havia verdade entre nós.

Hoje olho para trás e penso: quantas famílias vivem presas em silêncios e mentiras por vergonha ou orgulho? Será que vale mesmo a pena esconder as nossas fraquezas daqueles que mais nos amam? Talvez seja preciso passar por tempestades para percebermos quem realmente está ao nosso lado.