Expulsei o Meu Filho e a Nora de Casa: Quando o Amor de Mãe Precisa Dizer Basta

— Mãe, por favor, não faças isso… — A voz do Tiago tremia, os olhos marejados de lágrimas. Mariana, ao lado dele, mantinha-se em silêncio, braços cruzados, o rosto fechado como uma porta trancada.

Eu estava ali, no meio da sala, com as chaves na mão. O coração batia tão forte que pensei que todos pudessem ouvir. O cheiro do café frio misturava-se ao perfume barato da Mariana, e o relógio da parede marcava 19h17 — a hora em que decidi que já não aguentava mais.

Três anos antes, quando Tiago me pediu para ficarem cá em casa “só por uns meses”, eu nem hesitei. Ele tinha perdido o emprego na fábrica de cerâmica em Aveiro e Mariana estava grávida do meu primeiro neto. “É só até encontrarmos um cantinho nosso, mãe”, disse-me ele, com aquele sorriso de menino que sempre me derretia o coração.

No início, até gostei. A casa encheu-se de vida: risos, conversas à mesa, a expectativa do bebé. Senti-me útil outra vez, depois de tantos anos sozinha desde que o António morreu. Mas os meses passaram e nada mudava. Tiago arranjava biscates aqui e ali, Mariana dizia que estava à procura de trabalho mas passava os dias no sofá com o telemóvel na mão.

O pequeno Miguel nasceu e trouxe alegria, mas também mais responsabilidades. Eu fazia tudo: cozinhava, limpava, cuidava do bebé enquanto eles dormiam até tarde. Comecei a sentir-me uma empregada na minha própria casa. As discussões começaram por coisas pequenas: a loiça por lavar, as contas por pagar, o barulho à noite.

— Mariana, podias pelo menos ajudar a pôr a mesa — pedi-lhe uma noite.
— Estou cansada, Dona Rosa. Passei o dia todo com o Miguel.
— Eu também! — respondi, já sem paciência.

Tiago tentava apaziguar:
— Vá lá, mãe… Não compliques.

Mas eu sentia-me cada vez mais invisível. As minhas amigas diziam-me para impor limites, mas eu tinha medo de magoar o meu filho. Afinal, era só uma fase… ou assim queria acreditar.

O tempo foi passando e a situação só piorava. Mariana começou a trazer amigas para casa sem avisar. Uma vez cheguei do supermercado e encontrei três raparigas sentadas na sala a fumar e a rir alto enquanto Miguel chorava no quarto. Senti uma raiva surda crescer dentro de mim.

— Isto não é uma pensão! — gritei nesse dia.
Mariana olhou-me com desdém:
— Se não gosta, pode sair!

Tiago ficou calado. Sempre calado. Sempre do lado dela.

As contas começaram a acumular-se. A reforma mal chegava para tudo. Pedi-lhes para contribuírem com alguma coisa. Mariana riu-se:
— Com que dinheiro? O Tiago mal ganha para as cervejas ao fim de semana!

Foi aí que percebi: estavam acomodados. Não queriam sair dali porque era confortável demais. Eu era o colchão deles contra a vida dura lá fora.

No Natal passado, preparei tudo como sempre: bacalhau, rabanadas, sonhos… Mas ninguém ajudou. Mariana passou o dia no telemóvel e Tiago saiu para “apanhar ar” — voltou bêbado ao fim da tarde. Sentei-me sozinha à mesa e chorei baixinho para não acordar o Miguel.

Depois dessa noite, comecei a planear: precisava recuperar a minha vida. Falei com uma assistente social da Junta de Freguesia. Ela disse-me que tinha direito a impor regras na minha própria casa.

Na semana passada, quando cheguei a casa e encontrei Mariana a discutir com uma vizinha por causa do lixo no corredor, percebi que era agora ou nunca.

— Chega! — gritei. — Vocês têm até ao fim do mês para sair daqui.

Tiago olhou-me como se eu fosse uma estranha.
— Mãe… não podes fazer isto! Somos família!
— Família não é para abusar — respondi, sentindo as lágrimas queimarem-me os olhos.

Mariana levantou-se num salto:
— Vamos embora! Não precisamos dela!

Mas eu sabia que precisavam… E foi isso que mais me doeu.

Durante os dias seguintes, a tensão era insuportável. Miguel chorava muito — sentia tudo à sua volta. Eu tentava brincar com ele mas Mariana não deixava:
— Não te metas na nossa vida!

No último dia do mês, entreguei-lhes as chaves da porta principal e pedi as cópias que tinham feito sem me dizerem nada. Tiago devolveu-as em silêncio. Mariana saiu sem olhar para trás.

A casa ficou vazia outra vez. O silêncio pesava mais do que qualquer discussão. Sentei-me no sofá onde tantas vezes embalei o Miguel e chorei como nunca tinha chorado desde que perdi o António.

Agora passo os dias entre saudades e dúvidas. Fiz bem? Fui egoísta? Ou finalmente pensei em mim depois de tantos anos a viver para os outros?

Às vezes olho para a porta à espera de ouvir o riso do Miguel ou até uma discussão da Mariana. Mas só ouço o tic-tac do relógio e o bater do meu próprio coração.

Será que algum dia eles vão perceber porque fiz isto? Ou será que perdi o meu filho para sempre? E vocês… teriam coragem de fazer o mesmo?