Hoje, sentada à mesa da cozinha da minha avó Gabriela, tomei coragem para falar sobre algo que me atormentava há meses: a possibilidade de ela transferir o apartamento para o meu nome. Fui criada por ela, aprendi a cozinhar, a amar teatro, a sobreviver aos dias mais difíceis. Mas agora, com o regresso inesperado da minha mãe, tudo mudou e as certezas que tinha começaram a desmoronar.
Acordei com o silêncio pesado da casa, a ausência do meu avô a ecoar em cada canto. Desde que ele se casou com a Dona Emília, a vizinha do lado, parece que deixámos de existir para ele. Sinto-me perdida entre memórias felizes e a dor de ver a nossa família desfeita.
A minha neta perguntou-me, com olhos marejados, porque não queria eu que eles vivessem melhor. O peso da família, das decisões e dos segredos antigos esmagava-me o peito. Nesta história, conto como o passado e as escolhas difíceis podem separar ou unir uma família portuguesa.
Vivo com o meu filho, a minha nora e o meu neto num apartamento de 55 metros quadrados em Lisboa. O espaço é pequeno, mas os conflitos e as emoções são enormes. Entre lágrimas escondidas na casa de banho e discussões abafadas pela rotina, questiono-me até onde vai o amor de uma família.
Perdi o meu marido cedo demais, e apesar de tentar ser forte para o meu filho e netos, a solidão era uma sombra constante. Quando o Nathan, o meu neto mais novo, apareceu com um cãozinho para me animar, não fazia ideia do turbilhão que isso iria desencadear na família. Entre discussões, memórias dolorosas e segredos revelados, percebi que a dor nem sempre é visível — e que o amor pode ser tão complicado quanto necessário.
